quinta-feira, 23 de maio de 2013

CRÔNICAS DE UM VAMPIRO — 1

raffael petter

1. Sobre vampiros e um cadáver.


 
Não estava habituado. Não mesmo.
Aquilo tudo era muito novo para que eu conseguisse assimilar duma vez só. Nem que eu conseguisse viver mais uma centena de anos — o que eu acho que conseguiria—não me acostumaria com tamanha modernidade em que humanos vem avançando.
E vejam que em outubro deste ano completarei cem anos de existência.
Olhei duas vezes para rua para ver se vinha algum carro. Embora se um carro conseguisse me atropelar, o prejuízo seria totalmente dele já que dentre em instantes, meu corpo se regeneraria.
Atravesso a rua.
A vida de um vampiro é igualmente comparável a de um humano. Isto é, ambas tem os prós e os contras. Mesmo sendo imortal nós, vampiros, corremos o risco de morte. Basta sair num da quente de verão para que logo comecemos ter a pelo completamente hidratada. Se um vampiro ficar durante um longo período de tempo exposto ao sol, este entra imediatamente em combustão.
Viro a esquina à direita.
O que eu não estava acostumado mesmo era essa veneração em que a mídia vem nos pondo (vampiros).
Primeiro veio Bram Stoker com aquela a sua visão medieval dos vampiros; Anne Rice em seguida com a sua aproximada versão do "mito do vampiro" e por fim Stephenie Meyer com a sua versão um tanto diabética dos vampiros, que a meu era romanesca demais.
Olho em meu relógio.
Tinha que chegar ao bar ás nove da noite.
Quem pensa que vampiro não paga as contas está muito enganado. Levamos uma vida tão normal quanto à de qualquer outro ser humano.
O Lar do Diabo era um pequeno pub localizado no centro do distrito de Peba City. Era um lugarzinho muito badalado considerado "Cult", pelos cidadãos que ali viviam, apesar de que alguns desses cidadãos serem caipiras e não saberem o real significado da palavra, usando-o pedantemente.
— E aí, Gaé... — cumprimenta Leonardo me jogando um avental preto. Ele sempre apelidara como se eu fosse um irmão dele um parente próximo. —Que bom que você chegou... A macaca está solta...
—Você está atrasado, senhor Gael — disse a macaca (minha chefe). Marieta era mulher que beirava os quarenta e cinco anos, porém, o humor rabugento que tinha deixava-a com cinquenta anos. Cabelos platinados, maquilagem escura e piercing no nariz, ela era totalmente careta.
Checo novamente meu relógio.
Não; não estava.
Antes mesmo que eu pudesse contra-argumentar:
— Vamos, você tem pratos sujos pra lavar— diz ela apontando com os braços, para porta de vaivém vermelha que dava para cozinha.
Suspirei desanimado indo na direção dos pratos imundos.
Se fossem algumas décadas atrás, a essa altura, Marieta estaria sem a cabeça...

***
Se eu fosse um daqueles vampiros selvagens, cujos deixam o instinto tomar de conta de seus corpos, simplesmente sairia atacando os humanos a minha frente. Pularia em cima da pessoa e fixava os dentes em sua jugular.
Como não era de fazer esse tipo, me contentava apenas em receber ordens e lavar pratos. Alguns vampiros me chamariam de acomodado; outros de preguiçoso. Eu me consideraria esperto.
A cozinha era uma caixa retangular de sapato toda em azulejo branco e asséptico com uma luz branca, fria. Meu escritório baseava-se a uma pia com uma pequena mangueira de alumínio da onde saia um jato de água quente, qual eu regulava a quantidade de água expelida.
Outra modernidade humana...
Ah, não podia me esquecer! Tinha ali, uma secretária. A cozinheira, a grande cozinheira Amanda!
Uma garota balofa de cabelos rosa cortados em channel, qual usava no nariz de batata um piercing.
—Amanda... — digo quando a vejo entrar toda esbaforida— como vai?
—Mal— respondeu Amanda em seu mau humor recorrente. —A macaca está solta aqui hoje, hein...
— Normal...
— Se eu tivesse um pouco mais de dinheiro, compraria a bosta desse lugar. E a primeira coisa como dona, seria por no olho da rua a vaca da Marieta...
—Seria demais— concordo rindo.
— VAMOS LOGO COM ISSO!PAREM DE JOGAR CONVERSA FORA E TRABALHEM MAIS!! — gritara Marieta.
O que fez Amanda desferir um dedo do meio em direção a porta...

***
—Toma— disse Amanda me entregando uma bandeja redonda de alumínio escovado com dois hambúrgueres e um copo imenso de coca-cola light.
Outra coisa que eu não conseguia entender no avanço humano.
Uma bebida com menos calorias, só que numa quantidade exorbitante!
O pub começava a encher, criando vida.
Procurei para mesa doze.
Uma das últimas mesas, que ficavam perto do pequeno palco, onde às vezes, alguns grupos de rock alternativo vinham se apresentar.
— E aí Gael? — disse Paulo o velho caminhoneiro da cidade — Como vai indo?
Como eu ia indo?
— Muito bem e você? — perguntei fingindo interesse em sua vida sem graça.
E antes que ele conseguisse juntar as palavras para me responder, uma mulher irrompe pub adentro arquejando desesperada.
—O que foi? — pergunto, segurando-a antes que ela caísse desmaiada no chão.

***
—Espero que ela não esteja morta, pois senão descontarei em seu salário Gael... — disse a orangotango chefe atrás de mim. Como se eu tivesse culpa de ela ter tombado desmaiada em meus braços.
Além dela estavam atrás de mim: Amanda, Leonardo e Paulo que olhava de mim para mulher com uma cara de parvo.
— Ela não está morta... — anuncio ouvindo o pequeno e frágil coração dela bater na caixa torácica. —Ela apenas desmaiou...
Pego um chumaço de algodão e o mergulho num pouco de álcool; por fim, passo-o suavemente perto do nariz da desmaiada.
Tão logo ela recobrou a consciência falando:
— Preciso de ajuda... Meu marido, ele foi... ele foi atacado por um animal...um monstro... —ela repetia aquilo desesperadamente, com os olhos arregaladíssimos, como se o monstro estivesse ali, na sua frente.
— Onde ele está? — perguntou Amanda aproximando-se, de repente, da mesa sob onde a mulher estava deitada.
—Na floresta... Nós tínhamos ido acampar... Íamos comemorar nosso aniversário de casamento... Foi então que um animal enorme veio e atacou Filipe...
Aquilo era muito estranho, pois em Peba City quase nunca havia mortes, a não ser por morte natural de velhos.
— Querida, mas que ideia de jerico também, né? —começou Marieta metendo o bedelho. — Comemorar o aniversário de casamento no meio duma floresta... —disse para depois se afastar.
A mulher começou a chorar.
— Não liga não, ela é louca assim mesmo... — diz Amanda numa tentativa de acalmar a moça, exercitando o seu show de Stand-up comedy.
—Ei, você e você venham comigo, vamos buscar o marido dela— disse Filipe apontando para mim e Leonardo. —Ou que sobrou dele...
Antes que a porta do pub pudesse fechar atrás de minhas costas pude ouvir Marieta gritar:
— Aonde eles vão?Vou descontar do salário deles!
E Leonardo dizer:
— Merda!Podia ter ficado em casa hoje...
E por um momento fiquei pensando se eles iriam procurar por mim caso um dia eu desaparecesse de repente.

***

A velha picape de Filipe estacionara bem perto da entrada da floresta.
O céu estava sem estrelas e lua. Sabia que a busca do marido da Rosangela (eis o nome dela) seria uma tarefa árdua, já que com apenas duas lanternas se tornava quase impossível fazer uma busca. Se começássemos a fazê-lo seria uma verdadeira busca a uma agulha no palheiro.
— Bom, eles devem ter acampado naquela clareira onde se montas barracas — disse Filipe— melhor ficarmos juntos, pois será fácil, fácil nos perdemos nessa floresta...
Olhei para mata fechada a minha frente.
Sim, para humano seria fácil, fácil.
Adentramos na floresta e seguimos por uma trilha muito usada por aventureiros. Uma trilha estreita e íngreme que com qualquer deslize levaria uma pessoa desatenta ao chão.
Eu e Filipe carregávamos as lanternas, enquanto Leonardo ficava entre nós como uma criança obediente que num piscar de olhos poderia ser perder a qualquer instante.
Uivos podiam ser ouvidos não muito distante. O barulho incessante dos grilos eram os ponteiros do relógio da mãe natureza.
Os batimentos de ambos os meus parceiros aceleravam a cada passo dado à frente.
Um cheiro além, das folhas daquelas árvores, rescendiam no ar... Um cheiro que não me era desconhecido... Cheiro que excitava cada vez minhas narinas e fazia minha boca salivar...
Sangue...
Era quase impossível, ignorar aquele aroma ferruginoso ventilando pelo ar...

***

Depois de caminharmos um bocado de tempo nós nos deparamos como uma bifurcação.
— E agora? — perguntou Filipe coçando a careca— Por aonde a gente vai?Eu não me lembro qual era o caminho, faz tanto tempo desde que eu não venho aqui... Desde que Eliza morreu... — disse ele numa voz emocionada por uns instantes olhando para o horizonte em busca de memórias passadas.
Eu sabia por onde.
Ele me chamava; o sangue.
— Que tal fazermos o seguinte: eu vou pela esquerda e vocês vão pela direita?Se algum de nós o encontrarmos primeiro ligamos uns para os outros.
Eles concordaram seguindo em direção do outro caminho; sigo pela direita.
Corria feito uma besta selvagem. O cheiro de sangue atiçara em mim esse instinto animalesco, selvagem; instinto esse que há muito tempo não utilizava. Os galhos de arbustos e árvores menores batiam em meu rosto, o junco de folhas secas embaixo de meus pés era triturado com ruídos.
Quanto mais eu fui avançado mais pude ver a minha frente surgir um ponto tênue de luz que depois fora se tornando cada vez mais forte.
Era uma fogueira.
Ou o que restara dela.
As brasas duma fogueira estavam acesas no centro duma clareira ladeada por uma barraca de acampamento rosa.
O local estava uma verdadeira mixórdia. Cadeiras de plásticos jogadas de pernas pro ar, caixa de isopor totalmente despedaçada, cobertores feitos em retalhos espalhados pelo chão e dentre outras coisas mais que não dava para atentar direito, porque eu estava preocupado em outra coisa.
O cheiro de sangue estava próximo...
Ele praticamente boxeava meu nariz para eu segui-lo.
Foi quando encontrei o cadáver no chão.

***

O corpo estava afogado numa poça feita de seu próprio sangue. Tinha no rosto uma carranca de dor e medo. O cheiro de sangue que vazava daquele corpo estava me deixando louco...
Por pouco não cai em cima dele, sugando-lhe o que sobrara de sangue.
Todavia, me contive, pois havia algo, um objeto reluzente, caído ao seu lado. Além de que, consegui me lembrar da promessa que havia feito para mim mesmo.
Era uma insígnia, uma pequena cruz de ferro pintada de vermelho, cortado por um xis...
Não, aquilo não...
Procurei ao meu redor pelo dono daquele objeto que eu conhecia tão bem. Nada...
Ele havia desaparecido... Como era de se esperar.
Pego do meu celular e ligo para Leonardo.
— Encontrei o corpo...

terça-feira, 21 de maio de 2013

Para quem acessa este blog:

Voltarei em breve. Estou me organizando aqui (estou escrevendo duas séries ao mesmo tempo),então quando tiver capítulos suficientes, os postarei de imediato.

Obrigado pela atenção e por favor, paciência!

sábado, 11 de maio de 2013

O QUE É SER MÃE?

dia das mães
 
 

Mãe é um ser do sexo feminino que te gesta durante nove meses dentro de seu próprio ventre. É aquela que fica a imaginar como você é ou será, isto é, fica do primeiro ao último mês planejando como será sua vida.
É aquela que te nutre e que te ampara quando você arrisca a dar os seus primeiros passos para o mundo. Quando você correu a passos bamboleantes foi ela quem esteve lá de braços abertos com um sorriso no rosto, esperando. Se você caísse e se machucasse, com certeza, ela lhe socorreria...
Basta olhar em seus olhos, vamos experimente!
Com passar do tempo ela irá tentar te ensinar o que é o certo e o que é errado e você concordará (pelo menos por um tempo). Haverá momentos em que ela dirá:
-- Filho, não coloque o dedo na tomada!
Você desobediente e muito curioso a desobedecerá, levando um choque que nunca lhe sairá da cabeça. E após levar o choque à mãe como qualquer ser protetor, falará:
--Não disse!
E depois vai te pegar no colo até que você se tranqüilize. Com voz um pouco branda dirá, para que não repita o ocorrido, pois senão ela o poria de castigo. Porém, mal sabia ela as tantas e tantas vezes que teria de repetir tais palavras de alerta.
O tempo vai passando e você crescendo. Vai se tornando cada vez menos dependente dela, contudo, isso não quer dizer que ela irá te abandonar, deixando você aprender as coisas por si só. Pelo contrário, ainda continuará lá, te cercando como uma atenta leoa, te auxiliando nessa caminhada que é o viver. A experiência dela ajudará construir a sua.
Ao chegar da adolescência, a fase que mistura o adulto com a criança, a mãe vai ficando em segundo plano, pois surgem os amigos, as tribos, o sexo, namorados, o rock e dentre outras coisas, que te deixavam com a impressão de ser adulto, de saber tudo da vida, de ser o mais experiente.
Pobre criança...
Mal sabe que é nesse momento de fragilidade, de movimentação, de transformação do seu ser é que ela mais vai precisar do apoio materno. Nesse momento, irá se esquecer que é pré-adulto e voltará chorar no colo da mãe quando: acontecer à primeira briga com o namorado; quando tiver confissões para contar quando aquela sua melhor amiga não te parecer mais tão confiável assim; quando sentir-se diferente em meio aqueles colegas de classe que parecessem seres perfeitos e por aí vai...
Motivos para debulharem-se me lágrimas no colo da mamãe não irá faltar.
Ser mãe nessa fase é quase como fazer uma série de exercícios intensivos e diários. Só que invés de movimentar músculos, estará movimentando algo mais delicado: seus sentimentos.
Pois lidar com os próprios sentimentos diante do de outros, de seus filhos é algo muito complicado, principalmente quando o filho está na adolescência. Fase em que tudo se contesta em que se ouvem muitos nãos como respostas.
Época de discordância entre eles que só vão ser vencidas quando, os filhos submergem do mar turbulento que é o adolescer, respirando com calma e sem se esquecer da infância, o ar frio, o ar adulto.
Talvez essa seja a parte mais tranquila de ser mãe, não que vão existir problemas, pensar assim seria muita ignorância. Haverá problemas, sim, mas a mãe fará parte coadjuvante, aconselhando o filho a tomar decisões, a tomar rédeas de sua própria vida.
Eis que, ao olhar com saudades da infância pro retrato do filho já adulto, ela relembrará os momentos maravilhosos em que teve a seu lado e abrirá um sorriso grato por ter sido mãe.
Por ter sido sua mãe.



 

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Não escrevo mais nesse blog...

Não, não vou deletar esse blog ou muito menos abandoná-lo.Eu vou apenas escrever em outro blog.
Lá escreverei durante treze dias, treze estórias.Será  sobre uma Caçadora de vampiros.Mais não digo.

Então vai lá:13 Vampiros.
Espero por vocês!

segunda-feira, 6 de maio de 2013

A TRAIÇÃO

raffael petter

Soltei um suspiro largo e encarei Julie. Tão bela, tão delicada, mas tão falsa...
Em breve, me livraria dela para sempre. No começo havia sido um caso. Meros amantes. Sexo casual, mas com o passar do tempo ela quis transformar aquela relação fútil e banal em algo mais serio, um compromisso. Quantas vezes ela não me perturbara a paciência com aquela voz de criança assustada, quer ela tinha,questionando quando eu deixaria a gorda da Amanda.
Eu mentia lógico. Dizia que logo mais. O que não passava dum pretexto para continuar transando com ela.
Estávamos nós dois sentados ali naquela, pequena mesa de toalha engomada branca em meu apartamento particular na Avenida Paulista.
Havia a chamado porque ela iria cometer o desvairo de ir ter com Amanda, certa vez que eu e Amanda saíamos dum cinema.
Por pouco ela não tinha avariado meus planos ou até mesmo os destruído de uma vez por todas apesar de Amanda ser uma anta e não enxergar um poste a sua frente.
— Então?Quanto você quer para me deixar em paz? —pergunto após ter bebido um pouco de café de minha xícara.
—Você sabe muito bem o que eu quero... —disse ela com uma voz esganiçada. Julie realmente estava acabada. A beleza daqueles olhos azuis era turvada pelas bolsas de olheiras salientes, os cabelos estavam soltos, desgrenhados como uma espécie de selvagem, como espécie de leoa...
—E você sabe muito bem que não posso romper com Amanda agora...
—Mas você disse...
—Eu sem muito bem que eu disse... —falo rispidamente. — Mas no momento não vai dar para eu romper com ela... Isto é, nem nos casamos ainda...
—E o nosso amor não conta? —quando ela disse isso pude sentir um bafo de álcool batendo em minha cara, me deixando nauseabunda por uns instantes. Ela deve ter bebido como sempre quando está nervosa. — Eu pensei que você gostasse de mim... —disse para depois cair em prantos.
Sentia-me dentro duma novela mexicana. O que ela queria?Aliás, o que uma mulher fácil como aquela esperava dum homem rico pertencente à alta elite paulistana como eu?Acho que ela pensou por breve, mas por um breve momento, que íamos nos casar...
Pobrezita...
—Quanto você quer? —pergunto frio.
—500 mil reais... —disse ela secando o muco e lágrimas que atravessavam seu rosto com os punhos. —Posso te perguntar uma coisa?
Aceno a cabeça.
—Você me amou?
— Você quer saber mesmo a verdade?
—Sim. Quero.
—Não, nunca te amei... O que tivemos fora uma espécie de fogo de palha sabe? —explicava a ela que me olhava com ódio. —Você foi apenas uma apaixonite passageira...
—Bom saber. Passo amanhã, para buscar o dinheiro. —disse ela secamente, levantando-se da mesa e batendo a porta com toda força.
***
Acordei na manhã seguinte, com tilintar da campanhia. Devia ser ela, Julie.
Cimo a empregada havia recebido folga no dia, vou eu mesmo atender a porta. Era ela mesma, Julie , com a mesma roupa que usara no dia anterior.
Ela mascava chicles, quando disse:
— Cadê a grana?
—Entre. —convido.
Ontem a noite tinha feito ido no banco sacar o dinheiro, o tinha posto dentro duma valise que estava debaixo da minha cama.
—Espere aqui na sala, enquanto vou buscar o dinheiro.
Vou ao meu quarto e volto pra sala, me deparando com Amanda.
—Olá, querido, você não vai me apresentar sua amiga? —disse ela com aquele rosto redondo e gordo com um sorrisinho no final.
—Ela é... —gaguejo. —Ela é a filha da emprega tento mentir...
—Ora, essa querido diga a verdade.
—Que verdade? —pergunto.
—Ela é ou não é uma puta?
—Sou sim Amanda. —disse Julie com um sorriso estampado no rosto. Elas se olhavam como se conhecessem.
Não, não aquilo não poderia ser possível.
—Vocês se conhecem?
—Sim, querido, nos conhecemos sim. Ela é uma atriz contratada por mim, para dar em cima do meu futuro marido. É uma espécie de teste antecipado de fidelidade. Sabe como é, né. O mundo hoje em dia está cheio de oportunistas...
Lembrando bem, fora Amanda que me apresentara Julie naquele baile de gala, da alta sociedade... Tinha conhecido Julie pouco tempo depois de Amanda. Trocamos telefones escondidos e começamos a nos relacionar...
Então aquilo tudo, desde o princípio não passara dum teste!
Olhei para Julie que havia tomado uma postura completamente diferente. Estava seria,porém mantinha nos lábios um sorriso irônico.
—Não se preocupe, não contarei para ninguém. —disse ela se levantando do sofá em seguida por Julie. —Desde que você não se atreva a dirigir uma palavra sequer a mim.
Concordo com a cabeça e deixo ambas saírem pela porta...

domingo, 5 de maio de 2013

O Sábio Chinês e o Imperador

 


raffael petter
 


Na antiga china medieval existira um sábio muito renomado por sua astúcia.
Certa vez, quando meditava , recitando um mantra que só ele sabia, é interrompido.
É que o jovem imperador mandara um guarda chamá-lo:
-O Imperador mandou-me aqui em vosso monastério para dizer-vos que está precisando muito de vossa ajuda.
 Prontamente o velho sábio fora para o palácio ao encontro do Imperador.
-O que desejas, jovem Imperador?,Indaga o velho.
-Preciso muito de vosso conselho, senil sábio. É que meu império está à margem da ruína.  Os campos não cultivam mais, os animais estão à míngua e meus súditos estão adoecendo. O que achas que devo fazer para retificar esta terrível situação?
Perguntou o Imperador ao monge que pensou, pensou e por fim falou:
-Bom essas coisas que estão a acontecer em vosso império é fruto de sua própria preguiça e luxúria. Desde que tu assumiste o posto que pertencesse ao seu falecido pai, vossa senhoria só tem se importado a dar suntuosos festejos, assim não vendo o que ocorria com o reino. E aos seus súditos. Sinto lhe dizer que é tarde demais.
O imperador exasperado bradou:
-Guardas, matem-no! Ele ousa afrontar vosso Imperador.
O senil sábio entrega-se as lâminas frias e cortantes dos guardas sem resistir.
Dias após a morte do sábio o palácio imperial fora invadido por camponeses que estavam encolerizados com a situação do império. Eles capturam o Imperador e cortam-lhe a cabeça.
Moral da estória: “Nenhum vento sopra a favor daqueles que não sabem para onde ir.”

O DESEJO

rafafel petter
Robert passeava com seu cachorro pelo Ibirapuera como já era de costume. Todas as manhãs ele levantava as seis e tomava o cachorro pela coleira que a essa altura esperava pelo dono, completamente excitado.
Numa dessas vezes em que passeava pelo parque Robert tem sua corrida interrompida por um homem estranho vestido de vermelho (quando digo de vermelho é verdade, pois ele usava até meias vermelhas), qual lhe pergunta:
—Qual o seu maior desejo? — o homem mantinha um sorriso e um brilho no olhar estranho, que Robert mal notara, pois levava aquela situação toda na esportiva.
Então ele diz:
— Ah, com certeza é ser muito rico! — disse ele rindo para aquele cara estranho, que sorria um sorriso amarelo, esquisito, diria até um tanto malicioso...
Robert era um daqueles típicos empresários que competiam com todos, só para aparecer mais poderoso do que seu oponente. Logo, ele seria capaz de fazer qualquer coisa para conquistar o que almejava.
—Você faria qualquer coisa para se tornar rico? —pergunta o homem interessado, olhando pro cachorro para o cachorro que rosnava ameaçadoramente para ele, porém, algo interessante acontecera: assim que o aquela figura escura olhara para o cachorro, este ficara quieto, com rabo entre as pernas ganindo baixinho, com medo...
—Sim. —respondera Robert.
Apesar de ser um empresário de sucesso, ele não era tão rico assim. Além de que nunca é demais querer mais, dinheiro, não é?
Pois bem, era assim que ele pensava.
—Então, aperte minha mão e você será um homem rico... —disse o homem de terno vermelho oferecendo sua mão esquerda. Se Robert tivesse prestado atenção nos olhos daquele cara ele teria percebido que assim que tocara em sua mão, olhos dele soltaram faíscas...
E tentando entrar na brincadeira, Robert diz:
— O que você vai querer em troca?
— Mais tarde virei pegar algo do meu interesse, está bem? — disse o homem desaparecendo no ato.
Robert piscou os olhos uma série de vezes porque não sabia se aquilo fora real ou algo de sua cabeça. Chegou a olhar para cachorro como se ele tivesse respostas... Inclusive se possível gostaria de perguntar se ele sabia explicar o motivo de sua mão direita está tão quente...
Pouco tempo havia se passado desde aquele dia em que Robert havia se encontrado com aquele homem de terno vermelho. Depois, daquele dia as coisas haviam lhe acontecido tão rápido que mal conseguia acreditar.
Era dono de uma multinacional em vários países e sua empresa dominava o Brasil. E ainda por cima, em que certa vez, passava por uma lotérica, decidira apostar e conseguindo ganhar o prêmio no valor de vinte e cinco milhões de reais.
Depois de um ano, já não precisava trabalhar, porque tinha pessoas especializadas para isso, que tomavam de conta de sua empresa. Uma vez ou outra dava sua opinião nos negócios.
Como de praxe ele retomara a corrida matinal com o cachorro que sempre fazia.
Naquele dia, o Ibirapuera estava toldado por uma densa neblina, não conseguia ver muito bem, mas ele queria continuar, retomar aquele velho hábito.
Caminhava por uma rua estreita perto de árvores gigantes e bem velhas quando se depara com o velho do terno vermelho.
—Olá, se lembra de mim? —perguntou aquele que deixara Robert rico. Ele parecia a mesma roupa do encontro de dantes.
— Oi. — disse Robert meio desconcertado. — Obrigado, sem você não sei se conseguiria...
—De nada... —disse ele encarando Robert duma forma estranha.
—Não estou com dinheiro aqui, mas se você...
—Mas não quero dinheiro...
—Então, você quer o que? —perguntou o empresário estranhando, encarando pela primeira vez aquele ser de vermelho.
A boca dele trazia um sorriso maligno de outro mundo, parecia uma daquelas mascaras medievais que representavam a comédia. Os olhos eram vermelhos muito vermelhos...
Foi então que ele disse:
—Quero sua alma!
Foi a última coisa que Robert ouvira, pois depois de tentar se afastar e segurar o peito como se estivesse tendo um ataque cardíaco,ele tombara no chão como uma estátua.
O homem de vermelho sorriu para o cachorro e desapareceu no espaço, deixando no ar um rastro de enxofre.

A METAMORPHOSE

raffael petter
Abro a janela.
E sinto o maravilhoso aroma da laranjeira em flor rescender e de súbito, vejo um pequenino ser:
Uma lagarta gorda , verde com pelugem amarela e reluzente.
Caminhava morosamente por uma das tantas flores da laranjeira. Andava sem pressa como se o mundo não lhe existisse, parecendo estar ciente de cada ato seu.
Um tempo se passa...
E eu, novamente, abro a janela. É outono dessa vez. A velha laranjeira perdera seu frescor, o seu viço primaveril para dar lugar à algo decadente.Raquítica quase sem folhas e  as poucas que haviam restado, balançavam ao sabor do vento esperando o momento da grande queda.
De repente um estalo em minha mente :procuro pela lagarta de antes; porém, encontro apenas um casulo.
A lagarta de outrora se fechara num mundo interno que ela mesma criara, talvez, para se proteger do mundo externo ou, porque ela esteja se preparando para enfrentá-lo.
Um tempo se passa como das outras vezes e como nas outras vezes, abro a janela.
A estação: verão. Deito meu olhar para laranjeira que se levantava em direção ao firmamento azul  e de sol ardente a iluminava-lhes as folhas verdejantes da árvore. Recuperara o viço de antes.
Procuro, pela lagarta que tecera ao redor de si seu próprio mundo.O casulo.
Não a encontro.
Contudo, reparando melhor, a encontro, mas não em forma de lagarta ou crisálida, mas sim em forma de uma bela borboleta.
Borboleta de asas abertas para o mundo. Asas violáceas que romperam o mundo que ela criara para si e no qual durante um período de dias, ficara aprisionada, fortalecendo-se para viajar com suas próprias asas.
Eis, a metamorfose da larva em crisálida e na crisálida em borboleta, que finalmente solevava-se delicadamente no espaço como se fosse um pedaço quebrado de vitral, um vitral que fora fabricado pelas mãos da mãe natureza.
Enfim, decido romper, assim como, fez o inseto, às barreiras feitas por mim.
Decido, enfim, saltar pela janela em direção ao mundo.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

CRÔNICAS DE UM VAMPIRO — PRÓLOGO

 

cronicas de um vampiro



 
O Último Encontro

 
Podia vê-la caminhando até mim com aqueles olhos grandes e castanhos, normais; porém, sedutores.
Trazia nos lábios vermelhos e saborosos um sorriso malicioso que nunca a tinha visto usar desde que eu a conhecera...
—Você não estava proibida de sair de casa? — digo enlaçando-a, logo após, em meus braços num forte aperto para depois beijar-lhe os lábios desdenhosos.
Havia algo de estranho...
Quando meus lábios tocaram o dela era como se eu estivesse beijando uma estátua fria e insensível. Uma bela estátua; mas, ainda assim uma estátua.
Paro de beijá-la imediatamente.
— O que é que você tem? — pergunto segurando-a pelos ombros — Você parece estranha...
— Sério? —disse ela sem se preocupar em esconder o tom de desdém que normalmente ela não usava— Normal...
— Tem certeza?
— Total...
Olhando bem para ela algo havia mudado. Não somente em seus atos. O visual que agora ela adotara estava diferente. Não era a Eva que eu me apaixonara.
Quero dizer... Sim, era ela; porém, ao mesmo tempo não o era.
O cabelo que normalmente ela deixava solto, caindo sobre o busto pálido como a lua, estava preso num rabo de cavalo muito bem amarrado, emprestando-lhe ao rosto redondo e alegre um tom sóbrio, rígido. As sombracelhas finas e delgadas entregavam a malícia existente que haviam possuído aqueles olhos...
— Gael posso perguntar uma coisa? —diz ela dobrando o pescoço como um passarinho curioso. — Como se mata um vampiro?
— Por que a pergunta? — rebato encarando-a.
Havia alguma coisa naquela situação toda que me fazia suspeitar, algo falso que ainda não tinha percebido...
—Ah... é que...é que... — tenta explicar virando o rosto para direita, na direção da lua nova. Apesar das mudanças ela continuava tão linda...
—Se eu contar você promete não me matar quando formos morar juntos? —brinco com uma piadinha um tanto infame. Ela sequer se dera ao trabalho de rir. —O único meio de me matar, seria através duma estaca de madeira, qual deveria ser fincada em meu peito; no coração...
Ela piscou os grandes olhos e convidou numa voz suave:
—Me beije...
E sem pensar duas vezes a beijo vorazmente. Nossas buscam umas as outras, buscando sensações nunca experimentadas antes.
Tive que conter meu instinto brutal e animalesco que queria crivar o dente naquele pescoço cheiroso...
O mundo não nos era mais importante. Éramos um só.
Bom. Pensava assim até que algo afundou em meu peito provocando uma dor aguda insuportável. Algo havia atravessado a pele sob meu peito, perfurando-o, indo em direção ao coração.
De repente, o ar me faltara.
Minha vista começou a embaralhar; via a minha frente uma duplicata de Eva.
O pior de tudo era que eu não conseguia acredita. Aquilo não era possível! Outra pessoa, só poderia ter sido!
Não ela; não ela!
— Por quê? —perguntei me dobrando de joelhos— Por que você fez isso?
— Gael, querido não te amo mais... — disse ela explodindo em risadas e afundando a estaca ainda mais em meu peito.
Dor da estaca dilacerando minhas entranhas uniu-se ao meu coração quebrado...
Aquela não poderia ser Eva...
Não podia...
Não acreditava...
Isso fora confirmado, momentos antes de eu cair de borco no chão.
Havia um colar que ela trazia no pescoço qual eu não notara antes...
Antes que eu pudesse reagir, minhas vistas foram se apagando como num teatro no final de um espetáculo quando se apagam as luzes, deixando os aplausos da plateia no escuro...
No meu caso não existiam aplausos...
 
CONTINUA

A HORA DOS LOBOS —EPÍLOGO : A LOBA E A VINGANÇA

raffael petter
 
 
—Tabatha, você está bem? — perguntou Tyler, me encarando com aqueles olhos verdes-esmeralda.
Estava deitada num divã roxo e fofo perto duma janela com cortina de renda branca. Era a mesma sala em que segundos, eu bisbilhotara a conversa entre pai e filho...
—Ouvi tudo o que vocês disseram... —digo categórica. —Sou mesmo uma loba?
— Pai você pode me dar licença? — perguntou Tyler dirigindo-se ao homem que estava logo atrás dele.
—Esperarei pelos dois lá fora. — respondeu o pai de Tyler, um senhor de seus quarenta e sete anos de idade, com olhos verdes iguais ao do filho e sorriso franco nos lábios. Olhando, podia-se perceber que daqui alguns anos Tyler se tornaria uma figura igual aquela.
—Pode começar... —disse quando o pai dele fechou a porta, deixando-nos a sós. Tyler pegou uma cadeira próxima do divã e sentou-se perto de mim. Tentei me erguer, mas meu corpo ainda estava muito cansado.
—Por onde eu começo... —disse ele num monólogo, passando as mãos pelo rosto.
—Que tal pelo início? —disse irônica.
—Tá. Quando eu tive no cemitério naquele estado eu sabia que você morreria... Você havia perdido muito sangue e não resistiria por muito tempo. Por isso, corri o quanto minhas pernas puderam para chegar aqui...
Ele fez uma pausa olhando para mim com os olhos cintilantes como se certificasse que se estava bem.
Então, aproveitei a deixa para fazer uma pergunta.
— Mas se você não tivesse dado o seu sangue para eu beber, eu teria me tornado uma vampira?
—Não... De modo algum. Para isso seria necessário que Valerie desse um pouco do sangue dela para você tomar...
Por um breve momento aquela cena da desgraçada tomando meu sangue, voltou pela minha cabeça...
—Acho que ela queria me matar mesmo... —disse soltando um suspiro profundo.
—Tabatha, não houve outro jeito... Se eu não tivesse dado o meu sangue pra você... Você estaria morta. O sangue de nós lobos tem a capacidade de regeneração um pouco mais rápida do que a dos seres humanos... Apesar de você ainda estar um pouco fraca, mas é que o sangue ainda está agindo em seu corpo, muito provavelmente, porque suas células humanas estão se combinando com as células lupinas...
—Isso quer dizer então, que aos poucos me tornarei uma loba?
—Sim— respondeu ele acenando.
— E quando me transformarei? —perguntei bocejando, o sono de algum modo começou a me invadir.
Não agora, não, por favor, sono...
—Acho melhor continuarmos esta conversa depois...
—Não... —disse soltando um bocejo de urso faminto— Pode continuar...
—Só tenho uma coisa a te dizer... —disse ele se aproximando.
—O quê? —perguntei com a voz sonolenta.
—Eu te amo... —disse beijando minha testa.
Mais uma vez, adormeci...
***
—Você tem certeza, Tom?
— Absoluta.
—Você pode mesmo localizá-los? —perguntou Juan, tomando sangue numa taça, que acabara de retirar de mais uma de suas vitimas, a amiga de Azálea, a Mirtis uma velha de sessenta e poucos anos, que sempre ia visitar o casal Leônidas, sobretudo, para discutir jardinagem com Azálea.
Porém, seu corpo pequeno vestido por um conjunto moletom de rosa Pink, jazia sobre a mesa que horas atrás sua amiga havia sido morta, de modo que o sangue que escorria por dois furos em seu pescoço corresse mais rápido.
Tinha ido ali, na casa dos Leônidas, para informar que acabara de ganhar o concurso de melhor roseira silvestre (mesmo tendo ficado em terceiro lugar). Estranhara quando fora atendida por um jovem que se apresentava por Tom...
—Sim. Posso — respondera Tom terminando a sua taça, estalando a língua de contenção.
—Não se preocupe Valerie, eles terão o que merece... —disse Juan acariciando a cabeça branca e sem vida de Valerie.
Depois ambos os vampiros explodiram em gargalhadas, que perfuraram a noite de céu estrelado.

FIM DA PRIMEIRA TEMPORADA