12. Uma cabeça.
A
casa dos Leônidas ficava na parte mais afastada de Peba City. A casa era uma
das mais velhas de toda a cidade, tinha pelo menos mais de cem anos.
Era uma antiga construção toda feita em
madeira pintada de branca com uma larga varanda em sua frente. Apesar de o
tempo ter passado os velhos moradores, um casal de velhos soubera a conservá-la
bem.
O
jardim com esculturas de elefantes feitas em arbustos estava sempre muito bem aparado,
quem os vissem de primeiro momento diria que fora podado por algum profissional,
pois os animais eram muitos reais.
Porém,
eles não foram criados pelas mãos de um profissional e sim pelas mãos de Azálea
Leônidas, mulher de Adamastor Leônidas o banqueiro de Peba City.
Formavam
um belo exemplar de casal de sexagenários que qualquer um casal desejaria se
tornar quando chegasse à idade dos dois.
Azaléia
cuidava da casa e do jardim com auxilio de funcionários enquanto Adamastor cuidava
de sua tão preciosa biblioteca. Ele
passava a maior parte do dia lendo, Azaléia não reclamava, pois teria mais
tempo para cuidar de suas tão preciosas bromélias raras.
Como
havia dito, eles formavam um belo casal. Ela com sessenta anos ainda mantinham
um resquício de beleza. Lábios pequenos, rosto redondo e cabelos cortado no
estilo channel. Ele um pouco menos, apesar de ainda manter aquela pose
aristocrática e elegância que herdara com passar dos anos como o maior
banqueiro da cidade. Olhos verdes espertos, boca com sorriso irônico e uma
quase rala cabeleireira no topo da cabeça.
Porém,
certa noite quando estavam jantando, a campainha da casa toca.
Quem seria? Perguntara-se o casal.
— Quem é? — perguntou Adamastor a
Azálea.
—Não sei... Não convidei ninguém.
Interromperam a refeição esperando
pela volta da empregada que traria respostas.
Depois de meia hora de espera:
— Cadê a Inês, que não volta? —perguntou
Adamastor.
— Deve estar conversando na copa com o
cozinheiro... — disse Azaléia se levantando.
Contudo, pouco depois de se levantar
da mesa ela voltou a se sentar.
Entrava
na grande e luxuosa sala de jantar dois homens uma mulher.
—Opa!Chegamos na hora certa... — disse
um cara de cabelos negros e grandes com um sorriso torto de lábios sujos de
algo vermelho...
— Estou morto de fome... — falou o
outro um magrelo e loiro com cara pálida, como papel massageando a barriga. Ele
tinha o rosto anguloso, meio andrógeno.
—Eca!Sangue de velho... —completou a
mulher. Ela era espetacular!Busto cheio, cabelos cacheados e louros, aparentava
ter uns trinta anos mais quando soltava aquele sorriso irônico parecia ter
menos.
—O que vocês querem? —perguntou
Adamastor com a voz tremula como uma folha pendente dum galho.
— Não tenho paciência com velhos,
Juan! — gritou a mulher para homem de cabelos negros que parecia ser o líder do
trio.
— Calma, mana, Valerie... —disse ele
sorrindo— Será rápido... —disse ele com os dentes caninos retraídos,
pontiagudo, prontos para o ataque.
—Posso ficar com a velha? —perguntou o
loiro magricela.
—Pode sim Tom— respondeu Juan acenando
com a cabeça.
Assim como Juan, Tom e Valerie
retraíram os caninos, famintos.
— Estou faminta... —disse Valerie
saltando em cima da mesa.
***
—O que a gente faz com os corpos? —perguntou
Tom.
—Enterrem no jardim... Junto com os
corpos daqueles dois criados que matamos também... —disse Valerie.
— Como assim “enterrem”? —perguntou
Juan, chutando o lívido Adamastor que jazia morto a seus pés.
—Vou dar uma volta pela cidade...
—Mentira! — disse Juan pegando no
braço de Valerie com brutaleza. —Você vai encontrar o desgraçado do Bastian...
—E se eu for? — refutou arrogante. —Penso
que isso não seja da sua conta...
—Não basta o que ele te fez no
passado?
—Quem vive do passado é museu, agora
me largue.
—Valerie... —disse ele soltando o
braço dela.
—Eu sei me cuidar sozinha... — disse
dando as costas pros dois vampiros.
Por dentro, Juan fervilhava de raiva.
Odiava de corpo e alma (se a tivesse) Bastian Blake.
***
— Você não acha que Valerie está
demorando? —perguntou Juan sentado na cabeceira da mesa, a mesma que os
Leônidas horas antes jantavam.
—Isso é normal... —respondeu Tom. —Quando
Bastian e Valerie se encontram... Houve uma vez em Paris em que eles ficaram...
—Me poupe da novela— disse Juan
fazendo com o outro se calasse.
Ficaram calados durante mais uma hora
que se passara. Haviam caído num silêncio mórbido e entediante.
Juan se cansara de tanto esperar e
disse ao outro vampiro:
— Você não quer trazê-la de volta?
—Posso tentar vai meio improvável ela
querer voltar... Principalmente quando ela reencontra o Bastian...
— Não importa. Quero pelo menos saber
onde ela está. Se ela está bem.
— Cara, logo a Valerie?
—Vá, logo! —disse Juan.
—Tá, tá...
Juan ficou observado pela janela. Vira
quando Juan desaparecera nas trevas...
Há
algo de errado, pensou Juan, posso sentir...
***
Não acredito nisso, pensava consigo Tom enquanto corria pelas ruas de Peba City, porque sempre eu?
Podia
sentir o cheiro de Valerie flutuando no ar. Era como se tivesse um fio de
cheiro flutuando no espaço. A maioria dos vampiros possuía esse cheiro
especifico. Esse o era o cheiro de quando eram vivos.
No
caso de Valerie, ela cheirava a rosas vermelhas.
Parou
em frente duma igreja caindo aos pedaços.
O que ela veio fazer numa igreja? , Pensou ele, Espero que ela não esteja fazendo nada profano...
Ele
entrou na igreja e sentiu o cheiro de outros três vampiros e duas humanas.
Foi
até o corredor.
Não
encontra ninguém.
Volta.
O
nariz dele estava aguçado, farejando o ar com um cão perdigueiro.
Onde você está Valerie? , Perguntou Tom para si.
Voltou
para o átrio da igreja. Olhou para o céu escuro que começava a esmaecer,
recebendo gradualmente tons alaranjados.
O
sol nasceria em breve.
Farejou
o ar.
E
correu na direção do cemitério...
***
Aquelas
lápides todas, não lhe causavam estranheza como antes, quando humano.
A
morte era algo, banal.
Tão
banal que adorava ver a vítima morrer, esvaindo em sangue.
Sangue... Fonte de vida e prazer...
O
cheiro estava se tornando mais forte...
O
cheiro de rosas que sua irmã exalava era inconfundível...
Atravessou
o portão que dava em direção a floresta e lá estava ela, Valerie morta no chão.
O corpo desfigurado dum lado e a bela cabeça do outro...
O
corpo de Tom fora possuído por um tremor... As mãos tremelicavam como vara
verde...
—Não!
Nervoso, abriu uma cova no solo e
enterrou o cadáver da irmã.
Havia
outros cheiros ao redor, naquela parte onde a cabeça da irmã estava jogada...
O
cheiro de uma humana e de um lobo...
Pegou
da cabeça da irmã pelos cabelos e disse olhando em seus olhos de peixe morto:
—Não vai ficar assim... Vingarei sua
morte...
***
O
dia começava a raiar quando Tom chegou à casa dos Leônidas.
Trazia
consigo aninhando nos braços a cabeça da irmã.
Não
sabia bem o motivo de tê-la trazido consigo. Talvez, fosse pelo motivo de ela
ser tão bonita...
Um rosto tão belo, Concluiu consigo com os olhos
marejados, Não merece ser comido
pelos vermes...
—Então? —perguntou Juan virando-se de
frente para Tom assim que esse entrou na sala de jantar.
Tom
não precisou responder, pois os olhos de Juan desceram imediatamente para o
volume em que os braços de Tom abraçavam.
— O que? — questionou.
Porém não havia mais tempo para
respostas ou perguntas, pois lá fora o sol raiava.
Ambos
correram , buscando refugiar-se no sombrio porão da casa dos falecidos
Leônidas.
Adormecendo no colo da morte...
CONTINUA