sábado, 23 de fevereiro de 2013

A HORA DOS LOBOS Cap. 5

A HORA DOS LOBOS


 

5. A Verdade Sobre Tyler Black.

Passei a noite toda insone.
Todos os meus pensamentos gravitavam, em torno, de uma única pessoa: Tyler.
Apesar de ter provas suficientes para acreditar que ele era mesmo um vampiro, havia algo dentro de mim, um tipo de intuição, que me dizia o contrário. Algo não se encaixava muito bem nessa história.
Necessitava urgentemente de respostas (apesar de ser perigoso o que eu iria fazer) precisava ouvi-lo dizer de sua própria boca se ele era ou não um sanguessuga.
—Você, não vem Tabatha?—pergunta Alieta quebrando o estado reflexivo do qual me encontrava. Olho pra ela como se acabasse de cair duma bolha.
—O sinal já bateu?—pergunto, pois não havia ouvido nada. Havia passado as aulas e o intervalo, alheia a tudo e a todos que me cercavam. Respondia as fofocas de Alieta com monossílabos. Respondia apenas com “sim” ou “não” de forma quase que inexpressiva.
Parecia que eu vivia num mundo completamente paralelo, ao real. Qual não sairia nunca, se eu não obtivesse respostas o quanto antes.
—Você vai agora, Darling?—pergunta Alieta.
—Vou sim— respondo erguendo-me da carteira.
Havíamos sido as últimas a sair da escola.O corredor da escola estava ermo e sombrio.
Descemos as escadas correndo. Porém, daquela vez eu não iria para casa com Alieta.
Iria para outro lugar.
—Alieta, você se importaria em ir sozinha hoje?—pergunto. E antes de ela perguntar o motivo eu digo: — É que eu vou passar no escritório de minha mãe e de lá nós iremos almoçar em um restaurante...
—Tá. Mas não se esqueça de me liga Darling... Tenho novidade pra te contar—diz ela me piscando maliciosamente olho direito.
—Pode deixar amiga, que eu te ligo... —respondo.
Odiava mentir. Contudo, esse seria o único jeito se eu não quisesse ver Alieta morta ou machucada. E para que meu plano desse certo precisava que ninguém me servisse de empecilho.
O dia estava nublado. Cinza e pesado. Ouviam-se trovões ruidosos e um vento frio e enregelante cortar as copas das árvores quase sem folhas. As poucas remanescentes que lutavam contra frio estavam amarelecidas e secas, correndo o risco de a qualquer momento caírem.
Olho na direção em que Alieta seguia. Espero que ela vire a esquina e sigo na direção do estacionamento da escola.
O plano que tinha em mente seria muito arriscado, porém ele tinha que dar certo, pois senão correria o risco de perder a minha vida.
                                     ***
O estacionamento ficava atrás da escola, ao lado da quadra poliesportiva. Era uma área totalmente protegida por um gradil feito de ferro, cujo em seu topo havia fios que formavam as cercas elétricas. Em suma, o lugar podia ser comparado a algum tipo de campo de concentração.
Para entrar naquele lugar não iria ser uma tarefa nada fácil. Além, de que eu teria de ter muita sorte, pois o carro dele poderia não estar mais lá. Tyler poderia ter partido há muito tempo.
Na hora do intervalo, os meus olhos buscaram por ele , mas eles não o encontraram.Perguntei pra Alieta se ela sabia onde ele estava  e ela havia me dito que ,talvez, ele estivesse na quadra treinando com o Willians(o nosso professor de educação física). Havia me esquecido desse fato.Jogava futebol.
Vou passando rente ao gradil como se eu não tivesse nenhum interesse. Como se eu não estivesse interessada em localizar certo BMW preto, que segundo a minha amiga informada, pertencia a Tyler. Tinha dezoito e já podia dirigir.
Rá!Ele devia ser um repetente de meio século!
Dou uma volta completa, até que o encontro ao lado dum fusca cor de creme, qual deveria ser da professora Yvone. A professora, de nariz adunco, olhos pequenos e voz fanha, que nos dava aula de geometria. Todos na escola a chamavam de “Maria Fusqueta” por causa do carro.
Uma vez localizado o carro, agora tinha que apenas achar um modo de penetrar no lugar. Que seria dificílimo, porque carros e pessoas tinham que passar pela visão do guarda em sua cabine. Guarda que funcionava como um guardião do tesouro. Atentava para tudo e todos.
Mas a estratégia que tinha, na cabeça funcionaria. Bom, se eu fosse uma ótima atriz lógico...
                          ***

—Moço!Moço!Socorro!Minha mãe está passando mal...! —berro em socorro ao guarda, que desperta assustado de seu cochilo , saindo rapidamente da guarita.
Era um cara de quarenta e poucos anos, moreno e atarracado, que usava um bigodinho escova por debaixo dum nariz bulboso, avermelhado.
—Onde ela está menina?—pergunta ele preocupado. A voz dele era lenta. Aliás, ele como um todo me pareceu um pouco lento. Tanto nos movimentos vagarosos, quanto no raciocínio lerdo. Ele me pareceu um tanto preguiçoso.
E eu como uma atriz performática que sou indico:
—Ela está desmaiada, em frente à escadaria da escola... Por favor, vá lá socorrê-la... A pressão dela deve ter caído... —digo tudo entre ofegos e no final, para dar um ar ainda mais dramático à cena lágrimas escorre pelas as maçãs de meu rosto.
—Você chamou a ambulância?—pergunta ele num tom em que a preguiça estava descoberta.
—Não... Por favor, vá lá socorrê-la... —digo grudando no uniforme branco com listas amarelas nas laterais, dele. —Por favor... Moço, minha mãe não pode morrer...
—Tá... Pode deixar que eu já estou indo...
Em menos de dois minutos, ele dobrava a esquina rumando na direção da escadaria da escola.
—Bom... Até que foi fácil!Debora Secco que se cuide... —digo balançando o molho de chaves, que havia pegado furtivamente do bolso do guarda.
                               ***
Não demoro muito a abrir a porta da guarita, apesar de haver várias chaves parecidas, consigo encontrar a correta. Seguira apenas a minha intuição (que quase nunca está errada).
Abrindo a porta com rangido, me ponho a procurar o botão que abaixasse momentaneamente a cancela, qual logo após a minha passagem, deveria voltar a sua posição original.
Não podia deixar evidências.
Dirijo-me ao painel cheio de diversos botões. Vou apertando um a um.
Aquilo  fora uma verdadeira confusão. Sem perceber, havia acionado o botão dos postes de iluminação e desativado a cerca elétrica... Vou apertando loucamente os botões até quando encontro um botão redondo e vermelho, que estava escrito: Cancela.
No mesmo instante aperto o botão. Assisto quanto tempo ele voltaria a sua posição de antes. Precisaria de uns trinta segundos apenas.
Aciono-o mais uma vez. Jogo o molho de chaves sobre uma cadeira giratória de veludo vermelho que havia por ali e saio.
Fecho a porta e passo pela cancela.
E corro atrás do BMW.
Podia ouvir passos atrás de mim.
Encontro o carro e pulo dentro dele. Era um BMW de couro vermelho e sem capota.
Deito-me entre o pequeno espaço, entre o banco traseiro e o banco da frente. Desta forma, tentava me tornar “invisível.” O bom de ser magra era isso. Podia caber em qualquer lugar apertado.
Bem, agora só tinha que esperar pelo Tyler.
De repente, algo molhado cai na ponta do meu nariz. Passo a mão, rezando para que não fosse o que eu estava pensando.
Não, não... Por favor...
 Outra gota mais grossa cai no mesmo lugar.
De súbito, o seu começa a desabar em pingos grossos.
Droga!
Estava ferrada.
E o pior de tudo é que eu nem havia trazido um guarda-chuva...
                                    ***
Quase gritei quando ouvi a porta do carro se abrindo e pondo, logo em seguida, o carro em movimento.
Também, quase berrei quando jogou a sua mochila entre os bancos, acertando a minha barriga.
Que baita dor fora aquela!Parecia que eu havia levado um soco bem forte no estomago.
Ele ia me pagar!
Nem que eu precisasse enfiar uma estaca em seu peito.
 —Obrigado, Valter... —conversava Tyler com o guarda que já devia voltado. —Quanto devo?
—15 reais, senhor— responde Valter.
Se Valter decidisse contar sobre certa garota loira que usava brincos de caveira, eu podia me considerar morta.
—Tenha um bom dia senhor... —deseja Valter.
Durante esse tempo mantive a minha respiração presa como se o guarda pudesse ouvi-la.
Passamos pela cancela e ganhamos a rua.
A chuva, não passava agora duma finíssima garoa.
                                   ***
Estava penso, eu, há uns setenta por hora. O carro parecia flutuar sobre o asfalto úmido escorregadio.
Indo daquele jeito no carro dum vampiro, era cometer um autentico suicídio. Além, que seu estava morta de fome. Deveria ter comido alguma coisa antes, pelo menos morreria de barriga cheia.
Em certo momento da viagem, Tyler para o carro. Desce do veículo para verificar se era um dos pneus que furara. Encolho-me o máximo que o espaço permitia.
Passa por detrás do carro, verificando os pneus traseiros. Felizmente, sem me notar. Como não houvesse pneus estourados ele gira a chave, fazendo o motor possante rugir.
E antes de voltar a dirigir ele diz:
—Tabatha, não é melhor você passar pra frente?
Meu coração para como se tivesse sido congelado momentaneamente. Tinha a respiração ofegante.
Tyler virando o rosto em minha direção diz:
—Vamos, Tabatha, não tenha medo... Eu não mordo— convidava para eu me sentar a seu lado. A voz dele continha um pingo de ironia, uma pitada de humor negro.
Nesse exato momento, um raio costura o céu iluminando o rosto de Tyler, dando-lhe ao seu belo sorriso um ar macabro.
                                  ***
—Então?Vai ficar aí pra sempre? —pergunta ele olhando para mim.
Não tinha o que fazer. Restava somente obedecê-lo e ir sentar a seu lado. Poderia tentar correr, mas sem resquícios de duvidas ele iria conseguir me pegar.
Levanto-me do estreito assoalho do carro e vou me sentar a seu lado do banco de couro vermelho.
—Então? O que você está fazendo aqui?—pergunta arqueando a sobrancelha da direita em sinal de questionamento.
Cara... Como ele era tão gato! A beleza dele era incomparável. Nenhum outro garoto da escola conseguia ser tão belo. Aquela palidez, aqueles cabelos pretos, aqueles músculos fortes ou os olhos sedutores verdes como jade. Em suma, ele era um verdadeiro deus grego!
Mas não podia cair nessa. Tinha que relutar.
—E como você sabia que eu estava ali?
Ele solta um riso de desdém, que me irrita.
—Ora, não precisa ser a pessoa mais inteligente do mundo pra saber que a garota roqueira com brincos de caveira , que Valter se referia, era você... E também, você não estava tão imperceptível, como pensava que estava...
Droga!
O BMW entra em movimento. Não conseguia contestar. E ele muito menos olhava pra mim.
—Pra onde estamos indo?—pergunto.
—Pra sua casa... —responde sem desgrudar os olhos da estrada.
Oi?
Havia escutado direito?Para minha casa e não o covil dele?
—Você não vai me matar? —pergunto descrente.
—Eu devia...?—pergunta ele irônico.
Aquilo estava me irritando. O modo como ele me respondia, com aquele seu jeito irônico sem olhar nos meus olhos.
—Posso Ter fazer uma pergunta?
—Pode... —responde ele.
—Você é um vampiro?
Tyler breca o carro com tanta força, que faz com que os pneus cantassem no asfalto, exalando um cheiro de pneu queimando.
Ele fica olhando pro acinzentado horizonte em busca de respostas.
Depois, de uma longa pausa inquietante ele me diz:
—Não...
—Mas seu irmão, não é um? —interrogo.
—Sim é... —ele não me olhava nos olhos. Parecia que tinha medo de fitá-los.
—Então, logo você é um também...
—Não...
—Então você é o que então?—pergunto desafiadoramente.
  Meu interlocutor vira e me encara com aqueles olhos verdes como esmeraldas que faiscavam quando disse:
—Sou um lobo...
—Como assim um lobo?—interrogo.
—Conhecido comumente por lobisomem...
Como se ele tivesse lido meus pensamentos que se encontrava numa verdadeira desordem ele me explica:
—Bastian é apenas meu meio irmão... Não temos nada haver. Somos completamente diferente um do outro...
—E por que você me salvou naquele dia, na festa?
—Porque eu não podia deixar Bastian fazer aquilo... Se ele tivesse te atacado ele teria quebrado o pacto... —explica, porém parecia que falava numa espécie de monologo.
—Que pacto?
—Tabatha, quanto menos você saber, melhor será pra você e sua mãe... — avisa ligando o motor do carro e pondo-o  em movimento.
—Isso é impossível, Tyler Blake — zombo. — O seu irmão tenta me morder e você fala para eu ficar fora disso?
—Mas é para sua própria proteção, Tabatha— disse ele impassível igual a uma estátua. O maxilar dele estava tenso como se estivesse mordendo alguma coisa invisível.
—Você sabe muito bem o que está me pedindo é irrealizável... —alego.
—Você é sempre assim, tão irritante? —pergunta com um sorriso de canto de boca, desdenhoso.
—Quando é algo que me diz respeito, sou muito irritante. Sobretudo, quando um irmão de um lobisomem tenta acabar com a minha vida...
Solta um riso frouxo.
—Está... Que tal combinarmos algo?Aí poderia te contar tudo... —aquilo era uma cantada, um pedido de encontro?
—Amanhã? —pergunto sem meandros.
—Pode ser...
—E Marine Suprime?
—Ela vai estar muito ocupada, fazendo compras...
—A que horas você me pega?
—As quatro pode ser? —pergunta.
Aceno a cabeça num visível sinal de concordância. Lógico que podia! A qualquer hora e a qualquer lugar!
—Chegamos— diz-me ele.
Realmente, havíamos chegado. Estávamos bem à frente da minha casa.
—Então, tá. Até amanhã...
—Até.
Desço do carro me despedindo com um aceno de mão. A garoa parara, cedendo o lugar a um pôr-do-sol alaranjado, derretendo-se entre as verdes montanhas.
Fiquei ali, plantada na calçada como uma idiota até o carro de Tyler desaparecer no horizonte.
Logo, depois, muito faminta, vou pro meu lar doce lar.
*** 
—Mãe? Cheguei...Minha mãe há essa hora já devia ter chegado.
 Acendo a luz da cozinha, pois a luz do dia já ia se apagando aos poucos, obscurecendo o ambiente.
Procuro alguma coisa na geladeira. Não encontro nada. Não acredito! Não Havia nada pra eu comer. Quando estou com fome me transformo numa gorila ensandecida.
Então grito:
—Mããee...
Nada.
Nenhum sinal de vida.
Vou pra sala e ligo o interruptor.
E quase desmaio.
Estava tudo revirado. Sofá de pernas pro ar, papeis jogados no chão, vasos quebrados, quadros quebrados e etc.
De repente, um frio cortou minha espinha.
Subo pro meu quarto.
Não, aquilo não podia estar acontecendo. Mas quem faria isso?
Quem teria coragem para tal?
Adentro no quarto e encontro a resposta, pregada bem no centro de meu espelho. Caminho por entre aquela bagunça, que também não haviam me poupado.
Puxo a faca que prendia a folha no espelho e leio o bilhete: 
 
Estou com a sua mãe, cara Tabatha. Se quiser vê-la viva e sã e salva você deve me encontrar sozinha, amanhã meia-noite em ponto, na velha igreja da cidade.
Repito você deve vir sozinha.  Se não chuparei todo o sangue de sua pobre mãe e arrancarei a cabeça dela para depois jogar aos cães.
Atenciosamente,

Bastian.          
 
Fecho o bilhete em minhas mãos.
 Engulo em seco.
Não, minha mãe não.
De repente, minhas vistas escurecem. O mundo se fechava para mim.
Deixo meu corpo cair no frio assoalho.
Em breve, acordaria daquele estranho pesadelo... Em  breve...Muito em breve... 

 
        CONTINUA

 

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

A HORA DOS LOBOS Cap.4




                            4. Irmãos?
Alieta estacionou o carro bem em frente à casa do Tyler. Para chegarmos ali, tivemos de passar uma estreita estrada de terra, depois tivemos de passar por uma ponte feita de troncos grandes de árvores, cuja abaixo dela corria um riacho.O casarão de Tyler, pelo o que Aliete havia me dito durante a viagem, se localizava no coração daquela floresta. Era a única construção que possuía a permissão de estadia naquela reserva. Isso se devia, pois era considerado um verdadeiro monumento histórico, pertencente ao século 18.
Realmente, a casa estava muito bem conservada.
A sua enorme e clássica estrutura mantinham-se oponente. Composta de dois andares e um belo jardim era considerada uma das casas mais belas e cobiçadas das redondezas.
Porém, seu dono não estava nem aí para as propostas exorbitantes. Não precisava de dinheiro. Era dono da maior floricultura de toda a região. Chegava a exportar as suas flores para outros estados. Percebia-se a qualidade de seu trabalho através de seu vasto jardim com: árvores, arbustos e flores explodindo, nos mais diversos tons e matizes.
Fiquei sabendo disso tudo, porque Alieta como uma futura jornalista, me informara.
--Então?—começa Alieta assim que saímos do carro. —Ainda temos tempo, suficiente para você me contar o que veio fazer aqui...
Rá!Mais nem sob tortura eu contaria!
Eu ia falar que contaria depois e que agora não dava, quando ,de repente, sou invadida por sensação esquisita. Uma sensação que meu corpo já havia sentido e que agora se repetia a dose. Sou paralisada por um medo que me deixa dura como uma estátua. Apesar disso meu corpo arrepiava-se ao ouvir cada passo dele.
Bastian.
Rapidamente pego Alieta pelos pulsos e corro para trás do carro, na direção contrária dele.
Alieta me olha com olhos esbugalhados e abobalhados. Olhava como se eu fosse louca.
Prendo a minha respiração. Se ele nos ouvisse estaríamos mortas.
Podia até ver a manchete de algum jornal sensacionalista: “Garotas são mortas por animal desconhecido.”
E o que ele estava fazendo ali, na casa do Tyler? Será que ele estaria para matá-lo? Bem que eu pude ver um sorrisinho cínico estampado na cara dele...
--Mas Darling aquele...
Antes que ela terminasse a frase meto a mão na boca dela, fazendo com que sons surdos saíssem de dentro dela. Não podíamos correr o risco. Tínhamos de ficar em silêncio, pois a audição dessas criaturas são uber-poderosas.
Ele não hesitaria em nos matar.
Aos poucos vou erguendo minha cabeça para ver se ele já havia caído fora. Aparentemente sim. Mas não podia arriscar, já que ele podia estar escondido em algum lugar esperando que nós nos movêssemos.
Ainda segurava firmemente a boca de Alieta, quando ela me morde a mão.
--Aiiiiiiii — grito baixamente temendo que Bastian pudesse ouvir. —Por que você fez isso Alieta!?
--É que eu queria te dizer que aquele é Bastian Black irmão de Tyler Black...
De repente, meu mundo desmorona. Minha cabeça regira. Era como se ela tivesse sido jogada dentro de um liquidificador num ritmo alucinante.
E como se eu fosse uma velha caquética pergunto:

--O que você disse?
Ela arfa impaciente e diz:
--Bastian é irmão do Tyler, Darling...
Engulo minha saliva.
Bastian era um vampiro, logo Tyler era um... Era um vampiro também!
                            ***
--Tem certeza que você não quer ir lá falar com ele, Darling?—pergunta Alieta dentro do carro.
--Não, melhor não. Quero voltar pra casa e só— respondo.
Queria voltar pra minha casa e refletir. Havia muitas perguntas quais eu queria respostas. Uma delas é que Tyler sendo um deles por que ele impediu que seu irmão me atacasse? Por que ele não o deixou sugar todo sangue de meu corpo? E por que ele não me atacou assim como o seu irmão?
Perguntas e mais perguntas. 

                          CONTINUA

domingo, 17 de fevereiro de 2013

COMO SURGIU A HORA DOS LOBOS


A série “A HORA DOS LOBOS” surgiu a partir duma música da cantora Ke$ha na qual aparece ela sendo levada por uma horda de lobisomens para uma igreja.
Mesma igreja em que ela, transforma numa enlouquecida pista de dança.
Vocês devem estar pensando: e daí?
Bom, queridos leitores, foi daí que surgira a história. Quero, dizer, pelo menos o seu esboço pelo qual usaria para seguir escrevendo a história. Como vocês podem perceber no primeiro capítulo, da série, atribuo à jovem Tabatha algumas características da cantora de Die Young.
Na época, eu ainda estava escrevendo O Anjo Caído. Que quis terminar de escrever o quanto antes para poder dar início “A HORA DOS LOBOS.”
Sei que isso não vai acrescentar em nada na vida de vocês, mas esta aí.
E gostaria que vocês que lêem o blog escrevam comentários o que estão achando da série.
Abraços.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A HORA DOS LOBOS Cap.3


A HORA DOS LOBOS
                                                     

                 3. Dúvidas e mais dúvidas.
Quando despertei e vi que ainda era noite e que não estava morta, quase gritei exultante. Poucas pessoas escapavam vivas de serem mordidas por um vampiro. Na verdade, devo agradecer de joelhos a Tyler, porque sem ele, não estaria aqui para contar a história.
Até este momento ainda não consigo acreditar. Não mesmo. É como se eu tivesse emergido em algum livro de terror. Como O Conde Drácula, por exemplo. Momentos antes de conhecer, Bastian eu riria da cara de qualquer um que dissesse que havia sofrido um ataque de vampiro. Apesar de ser amante de literatura sobrenatural, nunca, pensei que em algum dia de minha vida, pudesse encontrar algum  na minha frente.
--Tabatha?—pergunta Alieta olhando para trás. Estávamos no carro de Roberto.
--Oi?
-- Encheu a cara em Darling... —diz ela soltando um risinho no final.
Oi?
Como assim, eu enchi a cara?Isso era impossível. Havia bebido um copo de caipirinha (que a meu ver estava muito forte) que mesmo assim, precisaria tomar uns cinco daquele para poder cair morta de bêbada.
--Mentira!... —digo curiosa em saber o que acontecera.
--Bom, Tyler disse que havia encontrado você jogada no chão... Disse que você devia ter bebido demais e que não acordaria tão cedo... Mas o mais legal de tudo foi ver a cara de tacho, da Marine Suprime, quando Tyler apareceu carregando você no colo... Darling, você precisava ver a carranca dela, parecia que tinha chupado limão... —diz Alieta, começando a rir descontroladamente.
Ria tanto que faltava até ar em seus pulmões.
Apenas esbocei um pequeno e tímido sorriso, pois por dentro, lá em meu âmago, estava contente, soltando mil fogos de artifícios.
Tyler havia me carregado em seus braços?
Uhu!
Tudo bem até aí. Seria a realização de qualquer garota ser carregada nos braços de um príncipe, assim como as princesas da Disney. Porém, havia algo a ser explicado.
Por que ele mentira?Falara que eu estava bêbada?Por que ele não tentara dizer a verdade (apesar de que muitos iriam achá-lo maluco)?
--Chegamos... —disse Ariel num tom de voz hesitante. Olho em direção da janela embaciada do carro.
Um carro de polícia estava estacionado em frente da minha casa.
                           ***
Imediatamente, meu coração começou a saltar no meu peito. Parecia querer pular pela minha garganta a fora. Alieta me olha, mas não respondo nada. Saio do carro e vou marchando em direção de minha casa.
Cada passo que dava, mais a dúvida crescia: o que estava acontecendo? Será que Bastian, para se vingar de mim resolvera matar a minha mãe?
Aquele sentimento era muito horroroso. Sentia-me afogada no temor.
Atravesso a viatura da policia. Galgo os degraus e torço a maçaneta da porta.
E sou surpreendida por um grito mergulhado em lágrimas e um abraço desesperado.
                              ***    
--Onde você estava?—pergunta minha mãe, seguida pelos os olhares perscrutadores dos dois policiais. Um era baixo e corpulento o outro era alto e magro com um bigode tipo escovinha.
--Oi?—digo como se não houvesse entendido a pergunta.
--Onde você estava Tabatha?—pergunta minha mãe novamente. Dona Rosana era o tipo de pessoa que não gostava de ser feita de otária.
--Numa festa...
--Que festa?—pergunta ela cada vez mais irritada, pelas minhas meias respostas. Passado o instante do desespero chega o momento do sermão.
--Uma festa de Halloween fora de época...
--Você, não podia ter me dado um telefonema ou pelo menos atendido um dos meus?—diz ela.
Pego do meu celular. Ops. Havia mais de vinte chamadas perdidas, mais quinze mensagens.
Cara, eu estava ferrada.
--Mas, mãe eu havia deixado um bilhete grudado na geladeira...
--Tabatha, acho que você já está madura o suficiente, para ficar inventando este tipo de historietas...
--Mas mãe...
--Não quero saber de desculpas. Suba, agora pro seu quarto— diz ela com total frieza.
Quando Rosana estava exasperada, quase impossível de contrapô-la. Era o que dava ser filha de uma advogada.
                            ***
Pude ouvir minha mãe agradecendo aos policiais e em seguida o carro de polícia partindo.
Não, aquilo era muito ridículo! Eu havia deixado o bilhete afixado na geladeira. Só se o vento que corria da janela da cozinha, que muito provavelmente, eu deixara aberta fez com que o bilhete descolasse da geladeira caindo em algum lugar.
Merda!
Por culpa de um bilhete, ficaria de castigo, pelo menos por um mês.
Não, isso não podia acontecer. Eram muitas emoções em um único dia.
Toc-toc.
Dona Rosana batia a porta.
--Tabatha.
--Mas mãe—começo eu. Eu não podia ficar de castigo. Tinha de argumentar. Tinha de lutar bravamente contra as injustiças. Não podia me entregar tão facilmente. —Foi o seguinte: eu havia escrito um bilhete e o havia afixado na porta da geladeira e como a janela da cozinha estava aberta é muito provável, que uma rajada de vento o derrubasse...
--Tabatha, você sabe que não é isso do que se trata...
Oiee?
Do que se trata, então?
A culpa não foi minha. Eu havia escrito o bilhete. Havia deixado um recado avisando aonde eu iria.
 Respiro fundo, o sermão ainda não tinha acabado.
--O que está em jogo aqui é o fato de você não ter atendido as minhas ligações ou ao menos ter respondido uma mísera mensagem...
Não conseguia falar.
Acho que também não tinha muito que falar né? Fiquei apenas ouvindo-a. Era como se eu fosse um psicanalista e minha mãe a paciente deitada no divã.
--Tabatha, eu fiquei totalmente desnorteada... Fiquei imaginado o pior...—diz ela sentando-se ao meu lado da cama.
Em certa parte ela estava certa. O pior podia ter acontecido. Eu poderia estar morta sem nenhuma gota de sangue no meu corpo.
Dona Rosana me olha como um juiz, esperando que seu réu admitisse a culpa.
Sim. Admito. Errei.
--Mãe, desculpa... A minha intenção não foi te deixar descabelada e enlouquecida... —respondo abraçando-a.
Pude sentir que algo molhava meus cabelos. Eram lágrimas de minha mãe. Permanecemos naquele abraço durante alguns minutos.
Depois, ela me deixa. E o melhor de tudo era que eu não estaria de castigo. Pelo menos não durante um me todo e sim uma semana sem tevê a cabo. Apesar de que isso não fazia muita diferença, já que nos havíamos acabado de nós mudarmos.
Pego meu celular e envio uma mensagem para Alieta. Qual ela não me responde, porque devia estar dormindo. Já passava das duas e meia.
Todavia, não conseguia dormir pensando nos fatos que sucedera na casa de Marine Suprime. Precisava fazer algo em relação aquilo. Precisava saber a verdade.
Precisava perguntar a Tyler o que acontecera.
E mais do que tudo precisava saber mais sobre vampiros. Teria de passar naquela loja de esoterismo da vidente maluca. Lá deveria ter algum livro que falasse a respeito. Podia muito bem ir ao Google e perguntar, mas encontraria muito lixo. Não estava a fim de ficar garimpando site por site.
Como a insônia tomava de conta de minha cabeça. Decido pegar algum romance pra ler. Vou à estante branca que ficava a frente de minha cama, passando minha entre as lombadas dos livros.
Seres de capa que tinham um mundo vasto e fantástico a revelar. Decido-me por Flaubert, Madame Bovary.
Um dos romances realistas mais ácidos que a história vira.
Amava a ironia do autor.
Começo a lê-lo até que meus olhos começaram a pender e em seguida fecharem-se de vez.
Enfim, caio no sono.
                         ***
 Como combinado, minha mãe havia me deixado um quarteirão antes da escola.
Mas não sem antes de eu ter lhe pedido dinheiro extra pro lanche, que seria revertido na compra do livro sobre vampiros.
Passo pela loja de esoterismo, que tinha afixado na sua vitrina uma placa que dizia: fechado.
Não importava. Passaria depois da escola.
                           ***
O tempo passara muito rápido.
Quando percebi, o alarme de saída já havia batido.
Alieta como já era de se esperar me interrogara a aula inteira sobre minha mãe. Ela me pareceu uma daqueles detetives de romances policiais da Agatha Christie. Ela não sossegara, enquanto eu não disse tudo o que me aconteceu, não deixando escapar nenhum detalhe se quer.
Na hora do intervalo não encontrei Tyler. Justamente num momento em que eu queria perguntar sobre Bastian. Saber quem era ele. O que ele fazia. Onde morava.
Despeço-me de Alieta e sigo para loja esotérica.
Lá, talvez, pudesse conter as respostas para minhas dúvidas.
                             ***

 Dessa vez a loja se encontrava com a porta aberta.
Sem hesitar entro na loja.
 O lugar como já era de se esperar era obscuro. A única iluminação que tinha, provinha da porta aberta.
Ando na direção duma estante abarrotada de livros que ia do chão ao teto. Procuro entre aqueles livros dispostos na prateleira em ordem alfabética algum que começasse com a letra V.
Meus olhos passaram por títulos: magia negra, magia branca, defesa contra seres das trevas, livro de feitiços contra espíritos, evocando espíritos e etec.
Até que encontro o que procurava. Não era bem na letra V, mas mesmo assim não deixava de ser o que eu procurava. Puxo o livro médio de capa dura e vermelha cujo título em letras douradas dizia:
Dos vampiros, dos lobisomens e doutras criaturas das trevas.”  
E ainda num subtítulo de mesma cor:
“Um estudo sobre seus hábitos e pontos fracos.”
Abro o livro de páginas amareladas com total sofreguidão. Queria obter, o quanto antes respostas.
Contudo, sou impedida pelo pigarro ruidoso da dona da loja.
--Este livro lhe interessa?—pergunta ela.
Óbvio que me interessava!
--Sim... Quanto custa?—pergunto.
Ela vai até o balcão que ficava do lado esquerdo da loja, abre uma gaveta e retira de dentro dela um livro grande de capa preta que parecia ser pesado.
--Sí, sí... —dizia ela num sotaque castelhano passando o indicador de unhas vermelhas pelas linhas dos livros. Entrego o livro pra ela para facilitar a pesquisa no que deveria ser um catálogo. —Custa vinte e cinco reais.
Ainda bem que tinha trinta reais no bolso. Entrego o dinheiro e depois recebo o troco.
A cigana como antes, no dia da adivinhação, ficou me olhando.
Tive vontade de perguntar se ela havia perdido algo, mas a minha infelizmente curiosidade não deixara que o fizesse.

                           ***
Como esperava, meu doce lar estava vazio. Ainda estava meio bagunçado, admito, contudo não era nada para se desesperar.
Pego meu almoço na geladeira e ponho no micro-ondas. Ponho o livro em cima da mesa redonda ao lado da parede e subo ao meu quarto para trocar a roupa. Depois, desço tiro meu prato do micro e o ponho na mesa. Volto à geladeira para pegar o suco de laranja, pondo um pouco num copo de vidro.
Por fim, abro o livro.
Vou logo ao que me interessava: Vampiros...
 
      VAMPIROS: CRIATURAS DO INFERNO

Vampiros são seres humanos mortos, que vivem de sangue de outros seres vivos. Não somente humanos como também de animais. Porém estes adquirem maior potencial de sua força ao beberem sangue humano.
Poucos sabem de onde essa praga surgira. Muitos estudiosos afirmam que os vampiros descendem diretamente de Lúcifer. Que os criaram para aterrorizar os humanos.
Outros afirmam que tais criaturas surgiram através de um pacto. Qual certo rei tirano havia realizado com Lúcifer, em troca da imortalidade e, por conseguinte ficaria muito mais tempo a  governar. Só que em troca Lúcifer, queria que ele vivesse de sangue, sobretudo, de seu semelhante.
Bom, não se sabe ao certo de onde vieram estas criaturas. Sabe-se apenas que elas são muito perigosas. São seres ultra habilidosos e sedutores.
Atraem suas vítimas por meio de um transe induzido. Deixando-as presas como uma mosca numa teia.
 Para um vampiro tanto faz transformar ou matar suas vítimas. Eles não fazem distinção quanto a isso.
Os únicos meios de se matar um vampiro é degolar-lhe a cabeça, estaca no peito e água santa. Sendo que esta última não mais surte efeito contra alguns espécimes, assim como, os crucifixos não mais assustam.
Isso vem acontecendo porque os vampiros vêm se adaptando. É o caso de alguns destes seres, que consumem verbena para neutralizar os poderes dos raios solares, permitindo-lhes desta forma andar na luz do dia.
Lia tudo àquilo completamente pasma.Não conseguia acreditar no que meu cérebro absorvia.Porém, houve uma parte peculiar no texto que despertou a atenção: 
Muitos estudos apontam que os vampiros são sócias-patas sobrenaturais.
Uma vez, que escolhem sua presa, tornar-se quase que impossível de detê-los. Não importa o que seja feito, eles perseguirão seu alvo até consegui-los atingi-los.
Assim que terminei de ler esse trecho um frio percorreu minha espinha.
Ops.
Se Bastian fosse mesmo um vampiro—eu não tinha mais dúvidas quanto isso— estaria correndo um perigo muito sério.
Não sou como minha mãe e Alieta. Como qualquer um que estivesse a minha volta que eu gostasse e amasse, pois ele poderia usá-los muito bem para me atingir.
De repente, uma mórbida ideia relampejou no meu cérebro.
E se Bastian matou Tyler?Isso explicaria o fato de ele não ter ido hoje para escola.
Subitamente a comida perdera o gosto para mim. Não podia comer, enquanto o corpo de Tyler podia estar seco em algum lugar em Peba City.
Fecho o livro.
 Pego meu celular e disco o número de Alieta. Não podia ficar de braços cruzados feito uma múmia egípcia, sem fazer nada.
--Alieta?Como vai...?Ah... Sim, sim... —ela não parava de falar do Roberto, que lhe dera um pé na bunda e que pegou ele se agarrando com outra. —Alieta você sabe onde fica a casa do Tyler?—pergunto em tom de voz  despreocupado.
Silêncio do outro lado da linha.
--Alieta, você está aí?—pergunto. Ela me responde que sim. Que sabia onde era a casa de Tyler e que fora uma vez lá, através de um contato dela.
Perguntei se ela estava disposta a me levar até lá. Ela me perguntou o porquê, mas eu não respondi. Apesar de ela insistir eu não disse o motivo.
No final Alieta disse que passaria na minha casa dentre meia hora.
Subo pro quarto e troco de roupa. Coloco uma blusa de moletom preta com estampas de caveiras roxas e brancas e uma calça jeans de lavagem azul escura. Passo um lápis no olho e um gloss.
O momento não era propício para extravagâncias.
                             ***
Após passarem-se alguns minutos do horário combinado, ouço o som da buzina de Alieta. Desço as escadas correndo em direção a porta. Abro-a e respiro aquele ar puro que prenunciava tempestade.
 Precisava ter a certeza de que Tyler não estava em casa.
Tinha de ter a certeza de que ele estava vivo ou morto.
 
                      CONTINUA