quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Possuída pela fugitiva do inferno


raffael petter blog

                                                                       


Chovia.
E justamente no meu primeiro dia na faculdade de engenharia!Droga!
Armo meu guarda-chuva roxo.Qual parecia uma violeta desabrochando. O mesmo acontecia com os passantes, que protegidos debaixo de seus guarda-chuvas pareciam verdadeiras águas-vivas coloridas. Olho meu relógio: 6:30. Tinha pouco menos de uma hora e meia pra executar todo o trajeto até chegar à faculdade. Olho pra esquerda e pra direita; atravesso a rua. Tinha que ganhar tempo... 
                             *** 
Que tédio... Do que adianta fugir do inferno e não ter o que fazer? E principalmente quando se está presa numa casa velha, que rescende a mofo.
Por que não saía? Porque simplesmente não tinha forças o suficiente!Gastei-a quase toda, tentando passar despercebida por Cérbero o cão do inferno... Solto um Muxoxo de tédio...
Pensava nisso , quando eis que se aproxima de meu cativeiro uma mulher, que empunhava um guarda- chuva violeta.
--Yeah!Enfim, encontro um recipiente para eu possuir... —digo estalando minha lingüeta bifurcada.  
                               ***  
Tomava um atalho, pois levaria menos tempo. Passava por perto de uma antiga casa quando me chamam:
--NOEMMMMIII!!!!
Estaco. Procuro pela dona da voz. Não a encontro. Fico olhando pra velha estrutura que era aquela casa. Ela tinha janelas quadradas. Uma delas tinha o vidro quebrado.
--NOEMMMIII!!!!—chama-me novamente uma voz feminina de tom desdenhoso. E foi pela aquela janela de vidro quebrado que vejo um vulto. Quando digo um vulto é porque no momento não consegui distinguir o que era...
Quem poderia ser?Seria algum serial killer, que estivesse em busca de fazer mais uma vitima? Não. Pouco provável. Contudo, a rua onde a casa ficava, estava completamente deserta. Excluindo obviamente um cachorro, que perseguia ferozmente um gato que tinha abocanhado um rato.
Tinha que me decidir logo...
Não podia ficar ali o dia todo.
--NOEMMMIII!!!!
Chamam-me outra vez. Meu coração dizia para eu seguir em frente e esquecer aquilo, todavia, meu cérebro me mandava descobrir quem era. Seguiria a razão ou a emoção? Decido-me pela razão. Desde muito pequena sempre tive uma curiosidade absurda.
Passo pelo portão de ferro, caminho pelo um jardim com plantas secas e árvores mortas até que galgo alguns degraus, parando em frente duma velha porta de carvalho. Ia bater na porta só que esta se abre sozinha... 
                               *** 

Acho que brincarei um pouco com ela... A assustaria e depois a possuiria. Gargalho. 
                                      *** 

Adentro ao hall de entrada e deixo o guarda-chuva, murcho gotejando. O forro da casa era todo constituído por várias teias de aranha. A casa parecia estar abandonada há séculos. Exala um cheiro insuportável de mofo, chegava a ser nauseabundo.
Por um momento, pensara que não havia ninguém por ali. Preparava-me pra deixar a casa quando:
--NOEEMIII!!!—novamente a mesma voz me chama. Parecia vir de algum cômodo de cima. Subo a escada de madeira correndo. Uma coisa eu não tinha dúvida: descobriria quem era o engraçadinho custe o que custasse. 
                              *** 

Como os humanos conseguiam ser tão tolos?Eles são uma verdadeira piada!Lá vem ela... Atravessava o corredor, as tábuas do assoalho lhe gemendo sob os pés... Corro pra uns dos quartos existentes da casa, fechando a porta atrás de mim com muita força... Noemi tenta abrir a porta... A impeço... E grito mais uma vez:
-- NOEMIII!!!!
                              *** 
Droga! O babaca ou a babaca –—ainda não tinha certeza quanto ao gênero— que estava trancado nesse quarto. Bato com meus punhos na madeira da porta:
-- QUEM É VOCÊ SEU IDIOTA?ABRA A PORTA COVARDE!MOSTRE A CARA—grito. Nesse momento a porta se abre. E eu entro curiosíssima para desvendar quem era. 
                               *** 
Vendo-a de frente até que era bonita... Seria bom ter um corpo como aquele. Tinha cabelos loiros quase platinados, olhos castanhos escuríssimos e lábios finos delicados que estavam pintados de vermelho.
Chega de brincar de gato e errado, Estava na hora de ser liberta... Fecho a porta. Via-se estampado, em sua face, o terror mais puro.
-- NOEMMIIIII!!!AQUI Ó.... —berro. Procurava-me dum lado e do outro. Parecia uma originalíssima barata tonta.
-- AQUI Ó...—grito de novo só que dessa vez,vou materializando meu corpo.Gradualmente. Se pudesse, teria fotografado a cara de espanto dela. 
                             *** 

Que estranho. Não havia ninguém naquele quarto. Do qual exalava um cheiro estranho que quase faz vomitar... Parecia enxofre.
De repente uma voz, agora tinha a certeza absoluta, de ser mulher, grita pelo meu nome. Fico a procurar pra ver se não havia algum microfone por perto... Não, tinha.
Um vento frio e cortante penetra pela janela de vidro quebrado. Quem seria? Não conseguia pronunciar nenhuma palavra. Meu coração parecia um pássaro preso na gaiola, qual sentisse a presença do perigo e começasse a pular insanamente tentando escapar de sua prisão.
Mais uma vez aquela voz feminil grita por meu nome. Estava paralisada. Seria algum fantasma?
Não, não acreditava nessas coisas. Não existiam. Contudo o que via em minha frente tomando contorno, não era um serial killer e nem muito menos um fantasma. A “coisa” era um espécime de fumaça negra, um ser etéreo que ia moldando-se, tomando corpo de mulher...
O ar me faltava... Ela se aproximava de mim...
                             *** 
Sentia o medo evaporando de seus poros. Seria um prazer ter aquele corpo só pra mim. E depois, se eu me enjoasse dele procuraria outro... Fazia ela se suicidar e pronto. Estava livre pra escolher outra casca.
Meus olhos avermelhados chispavam ansiando pelo desejo da posse. Pelo desejo de se ver livre. Enfim livre!
Fico a olhando. Minha lingüeta subia e descia. Aproximo minha mão de seu rosto... Ela suava... Dou um sorriso de escárnio. 
                            *** 
Aquela coisa estava em minha frente. Seus olhos pareciam duas brasas incandescentes. Estava tão perto que podia sentir seu hálito fétido qual cheirava a morte... Acariciava minha pele com aquela sua mão negra de ébano. Uma mão quente, que ardeu quando tocou minha derme...
O que aquela sinistra criatura queria comigo?  
                              ***
Chegou o momento... 
                               *** 
A criatura de chofre desaparece. Some no ar... Onde ela estava?Respiro fundo. Agora podia descansar... Começo a tossir. Minha garganta parecia se engasgar era como se alguém a estivesse dilacerando. Tombo de joelhos no chão; meus olhos começam a lacrimejar e minha narina ardia.
Em certo momento, não vejo mais nada...
                        *** 

Aninho-me em seus músculos, rastejo-me por seus ossos a incendiava toda. Como era bom aquilo! Possuir um corpo de carne e osso. Pronto! Instalo-me em seu cérebro como um parasita. Aos poucos vou tomando conta dele.
Levanto do chão. Aquilo era delicioso. Abro a boca de minha nova morada e grito:
-- UHUUUUU!!! 
                         ***  
Estava à frente da porta. Mais alguns passos e estaria livre dessa maldita prisão. Agora sentia-me mais forte.Torço a maçaneta de minha porta e...
-Olá, Lila como vai indo? Não acha que está na hora de voltar?
Petrifico. Aquele era Parrison uns dos caçadores do inferno, que levam os demônios fugitivos de volta a seu lugar. Ele habitava um mortal de cabelos moicano na cor vermelha. Era um originalíssimo Punk. Tento fechar a porá na cara dele mais ele me impede.
Ele era um caçador e com isso ele era muito mais forte do que eu... Eu peço:
--Por favor, não me leve eu te imploro...
Ele me dá um sorriso sardônico como resposta e depois diz:
--Vejo que você encontrou um corpo... Que por sinal é muito...Sexy —disse num tom voluptoso.Sorrio levantando um pouco a barra do sobretudo preto deixando um pouco a mostra as minhas pernas tenras,alvíssimas como leite.
-- Você acha?—pergunto.Ao que ele assente com a cabeça.Beijo –o intensamente. Nossas línguas se enroscavam feito duas cobras ferozes brigando por alimento, por prazer. O beijo era intenso... Parecia que estava sendo sugada... Aspirada para dentro de Parrison.
Parrison me enganara! Estava sendo tragada para dentro dele. Não conseguia interromper... Não tinha escapatória... Maldito!Abandono minha nova morada.   
                               ***  
-- Onde estou?—digo passando a mão pela minha cabeça. Nossa como ela doía. Olho. Estava no hall duma casa. Que estranho. Não consigo me lembrar de completamente nada. A porta estava aberta... Chovia torrencialmente lá fora.
Consulto meu relógio: 6:40. Droga! Tinha pouco tempo para chegar à faculdade. Era meu primeiro dia no curso de engenharia.
Armo o guarda-chuva e saio daquela casa velha e estranha.

 


domingo, 14 de outubro de 2012

O espelho de mão (Quarta Parte e última)

contos de terror com espelhos


Olhava-me ao espelho. O vestido ficara ótimo!Tinha um bom caimento. Minha mão contornava minha cintura, sentido a lisura do tecido. Estava tão feliz!Tudo estava dando tão certo!
A única coisa que achei completamente chata é que papai e mamãe partiriam hoje. Iriam à casa de vovó, pois ela estava muito doente. Se não fosse pela formatura eu teria ido. Contudo, nada me tiraria o prazer de ver a cara de Sandra, vendo-me sendo coroada como a rainha do baile.
Vou retirando um a um os bobs do cabelo. E num legitimo efeito dominó, as cascatas de cachos vão caindo. Estavam divinais. Esparjo um pouco de laquê para que elas perdurem. Finalizo a maquiagem passando um gloss sabor morango selvagem. Ah! Quase ia me esquecendo de passar o perfume. Banho-me com duas borrifadas. Pronto! Estou preparada para ocupar o trono.
Consulto meu relógio. Sete e meia. Busco meu celular na minha bolsa carteira. No qual havia a seguinte mensagem:

                                                Já stou chgndo amor!
                                                 Enviado por: Fabrizio

Havia a muito avisado Fabrizio sobre a formatura. Disse a ele que dançaria a primeira falsa com Brad e depois, passaria o resto da festa junto com ele. Se não estivesse namorando...
Porém, o que importava era que seria coroada. Isto significava muito na historia daquela escola. Alguém havia, enfim, derrotado Sandra Sanders. Uhu! Ponto! Começo a rir... Quando alguém bate a porta.
-- Olá, filha já está pronta?—era mamãe. Pude ver através do espelho da penteadeira o quanto os olhos dela faiscaram de amor e admiração.
-- Sim estou. O que acha?—pergunto dando uma voltinha.
-- Você esta linda filha!—exclama a mãe coruja.
-- Cadê, o papai?—pergunto.
-- Foi junto com Beto retirar o carro da garagem... —houve uma pausa. —Tem certeza de que não quer ir conosco?
Penso. Ir ver minha vó doente ou curtir um baile de formatura como rainha. Abaixo os olhos e digo:
-- Não, mãe. O baile vai ser muito importante para mim...
-- Então tá... —diz- me ela me abraçando como uma mãe urso a seu filhote. Nesse momento meu coração revirou-se. Um sentimento novo nascera. Difícil de exprimir em palavras ou sentenças. E foi nessa hora que a abracei como nunca havia abraçado. E disse o que nunca havia lhe dito.
-- Mãe... Amo muito vocês... —de repente lágrimas mornas e sinceras rolaram de meus olhos.
-- Ei, ei querida... Que isso. Não chore ou a maquilagem borrará... —disse-me ela tentando me alegrar. Sorrio.
De repente a buzina do carro de papai soa, quebrando aquela atmosfera de silenciosa e inteligente que fora criada em nossa volta.
-- Papai vai vir, não?—pergunto.
-- Não, acho que não.
-- Então tá. Diz à vovó que mando mil beijos a ela.
-- Pode deixa. E se divirta. —me dá um ultimo beijo na face e desce a escada.
                                           ***
Meia hora depois, o carro de Fabrizio anuncia com, uma buzinada, a sua chegada. Finalmente, o cavaleiro viera buscar, a sua princesa, pra levá-la ao baile. Dou uma última olhada no espelho da penteadeira e retoco um pouco a maquilagem. Olho minha imagem no espelho. Disparo um beijo pra ela.
Perfeita!
No entanto, precisava fazer algo. Lá fora Fabrizio já dava sua terceira buzinada. Ele que esperasse.
 Pego do meu precioso e encantado espelho de mão e beijo os lábios de minha irmã. E agradeço:
--Obrigada, por tudo!
E saio deixando o espelho dos desejos deitado em minha cama.
                                                   *** 
Minutos após, da saída de Suzanne o espelho começa reluzir fortemente. A parte oval e espelhada do objeto imitia uma luz branca e forte. E com isso uma sucessão de fatos começa a desenrolar-se: um carro preto rodava na estrada. Adentramos ao veículo, no qual, podemos ver nitidamente os seus ocupantes: um homem, uma mulher e um garoto de aparentemente dez anos. Reparando bem... Aqueles eram os pais de Suzanne!
 De súbito, uma chuva forte começa a cair. Do nada. Apesar de a meteorologia ter anunciado que a possibilidade de chuva era de zero porcento. Porém, aquela chuva caía torrencialmente. Ficava-se quase impossível de se ver algo.
Em determinado momento um dos pneus dianteiros é perfurado. O que ocasiona um leve desequilíbrio no automóvel, fazendo com que este atravessasse a outra faixa. O carro rodopiou algumas vezes na pista. Até que estaca. Estariam salvos? Não, não estavam.
Neste exato momento um motorista de carreta aproximava-se. Ele não conseguia enxergar completamente nada com aquele vidro embaciado. Tentou diminuir a velocidade, no entanto, algo de muito estranho acontece. O pedal do desacelerador estava quebrado. Pisa várias vezes na tentativa de conter a velocidade crescente. Infelizmente seus esforços foram inúteis.
Enquanto isso no carro, os pais de Suzanne tentavam desesperadamente saírem do carro. Todavia, as portas do carro não abriam. Eles estavam apavorados. Até que... Até que... Uma luz de farol fora se achegando, se achegando.
Cegando-os para vida. 
                                                             ***
Tocava S.O.S da Rihanna.A decoração do baile estava simplesmente perfeita.Atendia muito bem a temática daquele ano: A última primavera.
Flores das cores: rosa, roxa, violeta, lilás descaiam do teto. Parecia que tínhamos mergulhado num mundo mágico. Entro no grande salão, de braços dados com Fabrizio. Hehehe. Foi muito legal ver a cara de inveja e decepção de Sandra e companhia. Dou um sorriso pra elas.
                                                         ***
A coroação fora muito breve. Eu e Brad fomos coroados com diademas feitos de plásticos. Brad tentou dar em cima de mim, quando dançávamos a valsa, porém dei um fora nele. Queria me livrar o quanto antes dele, pois ele não era o tipo de pessoa da qual se possa chamar de pé de falsa (a todo instante pisava em meus pés).

-- Brad você faz um grande favor pra mim?—pergunto olhando aqueles olhos azuis.
-- O quê?
--Dança com uma amiga minha? Neste momento Sandy se aproximava.
-- Quem?
-- Ela. —digo empurrando Sandy em cima de Brad. Qual ele olha da cintura pra cima.
 Bom, já havia me livrado dele, agora podia ficar dançando com O Fabrizio.
                                                            ***
Dançar com Fabrizio foi à coisa mais louca que já me acontecera. Quando dançávamos parecíamos um só corpo. Diria que estávamos na mesma conexão. Muito b em sintonizados. Uhuu! Aquele era o melhor dia de minha vida!
                                                              ***
-- Suzanne! Suzanne!—era Sandy. Eu estava na mesa do ponche. Ponche esse em que continha flores dentro de si.
-- Que foi? Que foi?—pergunto no mesmo tom eufórico.
-- Dããr! Brad e eu vamos... Ai, você sabe... – contou-me ela. Tento dar uma de amiga preocupada só que ela estava decidida.
-- Se eu tenho certeza? Lógico que tenho!Um cara gatos desses!—Sandy despede-se de mim com um beijinho. Fico a vendo correr na direção de Brad. Os dois começam a se beijar calorosamente. Sorrio e vou levar o ponche a Fabrizio.
                                                                ***
Meia noite. A festa terminou. Eu e Fabrizio estávamos à frente de nossa casa. Meu Deus! Como os beijos do meu namorado eram calientes!Teve um momento em que as mãos dele penetraram dentro de meu vestido e ficaram a alisar a minha coxa. Aquilo me excitava. Paro de beijá-lo e digo:
-- Vamos pra casa?
Ele assente.
                                                               ***
Tinha pelo menos, cinco minutos para tornar este quarto romântico. Pego meu espelho de mão que havia esquecido em cima da cama e o coloco sobre a penteadeira. Dou uma ajeitada na cama. Retoco apressadamente a maquiagem. Estava O.K.
Podiam-se ouvir os passos sedentos de sexo de meu namorado. Ele irrompe na porta e meu celular toca. Era um número desconhecido. Quem seria?Atendo.
                                                               ***
-- O quê? Meus pais estão mortos...?— meu mundo desaba. Fico zonza. Tento me levantar, mas tombo.
                                                                ***
Fui amparada pelos fortes braços de meu namorado. Talvez tenha sido apenas um espécime de pesadelo... Não. Não fora. Pude constatar ao ver os olhos de Fabrizio. Começo a chorar. E ele me diz:
-- Sinto muito meu amor...
-- Não eles não...
Choro pelo menos uma hora. Fabrizio continuava a me amparar tentando de alguma forma me reconfortar. Minhas lágrimas inundavam o seu peito. Não conseguia falar nada.
Foi quando tenho uma ideia. O espelho de mão que aquela velha maluca me havia dado. Eu ainda tinha um desejo! Desvencilho-me dos braços de Fabrizio, vou à penteadeira e pego o espelho.
-- Ainda podemos trazê-los de volta... Ainda podemos... —disse com a voz embargada.
-- Como meu amor... —diz ele com uma voz que indicava o quanto estava sofrendo por mim.
-- Com esse espelho Fabrizio ele é mágico... Eu ainda possuo um desejo e posso trazê-los de volta...
-- Isso é impossível Su... —responde erguendo-se do chão. Vinha na minha direção. Penso que ele achava que havia entrado em choque.
-- Veja Fabrizio, veja: espelho desejo que você traga meus pais e meu irmão de volta.—digo olhando pro meu reflexo. Fabrizio ficou observando o espelho durante algum tempo mais nada acontecia.
-- Vamos, brilhe!—o sacudo e nada acontece. Nada de pedras reluzentes ou ao menos ferroada. O espelho parecia ser agora como qualquer outro.
Recomeço a chorar. Fabrizio me abraça e retira de minhas mãos o espelho. Era tão bom tê-lo. Ficamos, abraçados durante um bom tempo até que a campainha toca.
-- São eles!! São eles!!—digo eufórica. Corro pra porta e desço as escadas correndo. Meu namorado veio logo atrás de mim.

                                                   ***
Sabia que o espelho não falharia agora. Abro a porta e perco a respiração. Não eram meus pais ou muito menos meu irmão. E sim a velha insana do espelho. Não conseguia dizer nada. As palavras ficaram encerradas na minha garganta.
-- Olá, Suzanne como vai?
Não digo nada.
-- Acho que você possui algo que me pertence, não?—diz a velha de burca preta, estalando os dedos. E de chofre o espelho que momento antes, me pertencia, agora se via nas garras da velha.
Enfim consigo dizer avançando em cima dela:
-- Isso me pertence...
--HÁ, HÁHÁ... – gargalha. -- Você é mesmo ingênua, não Suzanne?Você que provocara tudo... Desde a morte do cachorro a morte da sua família...
-- O que você quer dizer com isso?
-- Quero dizer que quando você desejava algo ao espelho, algo tinha que ser dado em troca...
-- Você me enganou sua desgraçada!—disse enfurecida. Como não tinha percebido isso? Então a morte de Bobby, meu cachorro, fora em troca de meu boletim com notas azuis e  a morte de meus pais e meu irmão fora em retribuição de minha coroa de rainha do baile... Começo a chorar.
-- Você me enganou... —falo com a voz quase inaudível.
-- Outras já fizeram isso... E eu também sou uma vítima. Era jovem como você quando me aparece uma bruxa e me dá de presente este espelho de mão dos desejos... —dizia ela balançado o espelho— Peregrinei muito até encontrá-la, Suzanne...
-- Mas por que eu?—pergunto com voz rouca.
--Porque você é uma adolescente ambiciosa e vaidosa. O tipo perfeito para presentear com um espelho de mão encantado!
Procuro por Fabrizio. Olho pra trás e o vejo ainda na escada petrificado como uma estátua. Congelado no tempo.
-- O que você fez com ele?
-- Nada. Ele só está congelado. Não queria que ninguém interferisse em nossa conversa. Quando tudo acabar ele voltara ao normal...
-- O que você quer em troca? – pergunto. Observa-me.
-- Quero a sua juventude... E em troca dela, prometo devolver seus pais,seu irmão e o seu cão... O que acha?—me diz com sorriso no rosto.
Estava encurralada. Não tinha escolha. A culpa era minha e era eu a única que poderia consertar.
-- O que tenho que fazer?
--Aproxime-se...
Ando alguns passos. Fico de frente a bruxa.
-- Então... —pergunto corajosamente. Ela levanta o espelho e quebra-o sobre minha cabeça. Isso faz criar uma chuva de estilhaços caírem sobre meu corpo. Eles tocavam minha pele, rasgando-a. Rios de sangue brotavam de minha derme.
-- O que você fez comigo?—pergunto assustada.
-- Roubei a sua juventude...
Algo me passara despercebido... Aquela figura antes decadente tornara-se jovem...
Sim. Jovem. Com cabelos negros, olhos verdes e a pele lisa e impecável sem velhas rugas de antes... Tudo muito jovial.
--Acho que isso lhe pertence... —me diz a jovem bruxa entregando o maldito espelho de mão. Se eu soubesse que aquilo tudo iria acontecer não teria aceitado aquele objeto.
-- E minha família?
-- Ah, quase ia me esquecendo... —ela estala os dedos e tudo se apaga. Não vejo mais nada.
                                                     ***
Acordo com uma dor de cabeça horrenda. Que pesadelo horrível que tive... Onde estava?Olho ao meu redor. Ei. Acho que sei onde estou!Esse é o jardim de minha casa! Levanto-me eufórica. E sem querer, deixo cair um objeto que dormira comigo.
 Era o espelho... O pego e vou à direção da porta de minha casa. Toco a companhia... E que me atende é Beto...
As lágrimas começam a rolar. Tento abraçar Beto mais este se esquiva. E pergunto:
-- Que foi Beto...?—pergunto aproximando-se. Pinço-o pelo braço e ele começa a gritar:
-- MÃE TEM UMA VELHA ESTRANHA QUERENDO ME PEGARRR!!!!
Velha? O liberto imediatamente e este bate a porta em minha cara. Como assim velha? Olho atrás de mim para ver se não havia mais ninguém. Não. Não havia.
Engulo em seco. Olho pro espelho em minhas mãos. Não. Isso era impossível!Choro antes mesmo de ver-me no espelho.
Olho aquele reflexo. Não, não podia ser. Aquele reflexo não me pertencia. Meu cabelo havia esbranquiçado, minha boca murchara, meu rosto estava cheias de meandros de rugas e uma verruga enorme habitava meu nariz...
Num desespero crescente, solto um berro gutural, senil , perene:
-- NÃÃÃOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!!!!!! 
                                           FIM  

Dedico este conto aos leitores deste blog que me incentivaram a continuar.Espero que tenham gostado!

sábado, 13 de outubro de 2012

O espelho de mão (Parte Terceira)

Contos de terror com espelhos

Na sala, papai e mamãe já me esperavam. Estavam sentados a mesa. Executaria minha sentença. Em breve, diria adeus ao convívio social. Sento-me. E foi nesse momento que papai inicia:
-- Suzanne, você sabe o que acontece quando.... —nesse momento tive que interromper. Tinha que me defender, pois eu não deveria ter acreditado naquela balela do espelho:
-- Pai, mãe é sério. Nos outros bimestres prometo meter a cara nos livros... —foi nesse momento que os dois me olharam com a cara de espanto como se quisessem dizer: “O que de nessa menina?”. Nesse segundo momento fora mamãe quem fala:
-- Querida, bom saber... mas no momento acho que você não vai precisar muito não...—diz- me  jogando  o cartão de notas. Fiquei pasmada. As minhas notas estavam todas lá. Só que bem melhores. Na verdade, só tinha uma nota em todas as matérias: 10!Hehehe.
Faço uma cara de que não viu nada demais e pergunto com um ar arrogante, para quem estava com o pescoço no cadafalso:
--Bom. Era só isso?
--Não, queremos te dar um presente. Uma passagem, no final do ano para Cancun... Você pode escolher mais uma pessoa pra acompanhá-la. Nós decidimos que você já responsável e merece. —disse-me papai entregando o flyer que mostrava as praias de águas cristalinas e de areias branquérrimas. Levanto toda eufórica e distribuo beijos estalados nas maçãs de cada um. Ao que dizia: Obrigada!
Pego meu boletim e o passe pra Cancun. Corro pro meu quarto.
                                                   ***
Não conseguia acreditar no que via em minhas mãos. Primeiro um boletim que dias antes devia alarmar, em tinta vermelha, o risco que corria de me tornar repetente. E segundo a passagem (como brinde) para Cancun um lugar paradisíaco!
Busco pelo espelho debaixo da minha cama. Estava numa caixa branca, redonda de papel. E começo a beijar o meu reflexo.
--Obrigada!—cicio. 
Aquilo merecia uma comemoração. Marco com o Fabrizio para irmos à lanchonete que inaugurara perto dali. Ele iria me buscar as sete. Não havia tomado ainda o café da manhã. Meu estomago já roncava feito um motor de trator velho. Desço pra sala como uma canibal esfomeada.
                                         ***
Se Suzanne houvesse ficado mais alguns instantes observando o espelho de mão, talvez, teria assistido a bizarra cena que se passara nele: um cachorro pardacento de porte médio ladrava sem parar. Ladrava para um inimigo invisível. Pro nada.
 E de repente este nada se manifesta.
Investia contra o cachorro. A cada investida sua, ouvia-se o ganir lancinante de dor do cão e as marcas profundas das garras do invisível. O cachorro bem tentou fugir, porém algo o prendia ao chão. Era como se alguém houvesse chumbado suas quatro patas ao solo. E o nada continuou as suas investidas ao passo que o cão prosseguia com os seus dolorosos ganidos. Até que passado dados momentos, não se ouve mais nada.
                                              ***
O encontro com Fabrizio fora cancelado. Não tinha ânimos para comemorar ou ouvir Fabrizio falar sobre futebol. Estava muito abalada. Bobby estava morto. O pobre do meu cachorro fora encontrado esquartejado, afogado na possa de seu próprio sangue. Aquela cena a todo o momento voltava a minha cabeça como um horrível flashback de filme de terror. Contudo, não conseguia, entender, como Bobby teve uma morte tão cruel re insensível como essa!
A polícia aventurou que ele pode ter sido vítima de um psicopata ou de uma gangue de cachorros. Tá. A primeira opção é muito mais provável. Bobby deve saído de sua casinha. Neide (apesar de alegar várias vezes de não ter feito) devia ter deixado aberto o portão e ele aproveitou para sair. E foi aí, que a polícia encontrou seu corpo num terreno descampado, existente perto do condomínio. Beto era o que estava mais arrasado. Pois eles eram parceiros inseparáveis.
Ficamos durante duas semanas de luto.
                                     ***
-- Su, você ficou sabendo?—essa daí é a minha melhor amiga desde o jardim de infância. Sandy. Ela era uma negra muito linda. Era dona de olhos verdes claros e amendoados de gatos e possuía lábios grossos e beijáveis. Respondo e pergunto curiosa:
-- Não. O quê?—ela me encara com ar de perplexidade que ao mesmo tempo revelava uma felicidade secreta de ser a primeira a me reportar a notícia.
-- Dããr! O baile de formatura está chegando e com ele o rei e a rainha do baile! Dããr!-- ela sempre usava o “Dããr” no começo ou no final das frases.
-- E...?—pergunto.
-- Dããr!E que você vai participar. Pra esfregar na cara da Sandra. —a Sandra a que ela se refere é a minha arque inimiga. Mais sem chances. Não podia concorrer com ela. Sandra era popular e sem sombra de duvidas a maioria dos meninos, que gostam de um bom par de silicones, iriam votar nela. Digo:
-- Sem chances!
-- Por quê?—ela me pergunta.
--Impossível eu perderia feio!
Nesse momento Sandy emudece. Como se lhe tivesse caído à ficha de que ninguém vence Sandra Sanders, a garota mais popular da escola.
Quando íamos à direção da sala de química eis que me aparece Sandra. Deveras, ela era muito bonita, mas não era aquela beleza natural que nasce com as pessoas. Era uma beleza meio artificial, moldada a bisturi.
-- Olá, Suzanne tudo bom contigo?Soube que você se inscreveu pra rainha do baile...
Fiquei sem palavras. Elas estavam mortas dentro da minha garganta. Olho pra Sandy. E ela me olha de novo. NÃO!Isso era impossível! Ela colocou o meu nome, sem minha autorização!
-- Não deve haver algum... -- Sandra não deixa completar a frase.
-- Tenho só aviso: VOCÊ VAI PERDER FEIO!—disse pondo. O que fez com que as suas começassem a rir feito um bando de corvos. Ela me empurra pro lado e sai desfilando com a corte de gralhas  em retaguarda.
Fico olhando para Sandy em busca de respostas, no entanto não as encontro. O sinal pra aula toca.
                                               ***
Mal chego a casa e já subo pro meu quarto. Não acreditava naquilo!Sandy me inscrevera sem meu consentimento e o pior não saberia quem seria meu rei?Fabrizio não dava para ser, pois ele não estudava naquela escola. Apesar de que ele, obviamente seria o meu par. Começo a rir.
Seria impossível eu me tornar rainha do baile... Pensava isso quando estala-se algo em minha cabeça. E se eu usasse o espelho de mão novamente?
Dou um sorriso sacana. Só tinha que desejar e pronto!E adeus, Sandra Sanders a futura rainha do baile.
Já estava com espelho em mãos. E desejo sem pensar:
-- Espelho desejo ser a rainha do baile. Desejo que todas as pessoas da escola votem em mim.
Como da outra vez, as pedrinhas do bastão do espelho reluziram vivamente. E o chifre do sátiro elevou-se, subitamente, furando-me. Pronto agora só tinha que esperar...
O tempo passou rapidamente. Tão rápido que eu fora com Sandy escolher meu vestido. Faltava uma semana.
-- Como você tem tanta certeza, assim, que você irá ganhar?—me pergunta. Olho aqueles olhos verdes e digo:
-- Eu vou ganhar você vai ver... —talvez, por ter dito aquilo com veemência e sinceridade, Sandy deixa de tocar no assunto. Eu escolhi um vestido rosa com alguns pedriscos. Ele tinha um corte em vê no busto.
Sandy escolhera um longo preto que lhe ficava bem justo ao corpo. Saí da loja com a certeza de que usaria aquele vestido.
                                                   ***
Era véspera do baile. Eu e Suzanne corremos ao mural para ver quem seria a rainha e o rei do baile. Tcha- nã. Adivinhe quem ganhou?
-- UHUUUUUUUUUUUU!!!!—gritei quando Sandra se aproximava com as gralhas. Comecei a rir. Sandy me acompanhou. E digo  pra ela:
--Não falei? Cem por cento de aprovação.
--Que estranho... Então todos da escola votaram em você?—respondo com um sorriso. —O seu par do baile será o Brad!!
Petrifiquei. Brad é simplesmente o cara mais gato da escola! Dou mais um grito, que faz espanta Sandra e as gralhas.

CONTINUA ....